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segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Eleições "off line": isto tem de ter fim

Ontem foi dia de eleições na Sicília. Os eleitores da simpática ilha ao sul da península Itálica foram às urnas para escolher seus representantes e Presidente no Conselho Regional. O equivalente mais próximo seriam nossas Assembléias Legislativas, com a diferença de que o Presidente escolhido, através de partidos ou coligações que obtiverem a maioria, atende a um cargo semelhante ao nosso governador. Sem querer ingressar nas minúcias da política italiana, em especial da Sicília, o fato marcante é de que o voto não é obrigatório. Em função disto a abstenção atingiu inacreditáveis 48% do eleitorado.

Assim sendo, vamos viajar para um continente do outro lado do Atlântico e lembrar que os Estados Unidos têm eleições majoritárias agora, na terça-feira 6 de novembro. Apesar de não ser feriado, ou domingo, 63% do eleitorado da terra do Tio Sam foi às urnas há 4 anos, apresentando a menor taxa de abstenção desde 1960. Nas terras de Obama e Romney, as eleições tampouco são obrigatórias. Tudo indica que a participação através do voto será ainda maior este ano, pois a comunidade latina está com muito medo do retorno eventual de um Republicano à Casa Branca em época de crise financeira. Pesquisas reveladas esta semana dão conta de uma participação maciça da comunidade latina no pleito que decide pela manutenção de Obama, ou se o Salão Oval será ocupado por um branco pelos próximos 4 anos. Caso o furacão Sandy não atrapalhe de forma expressiva o dia-a-dia do populoso nordeste dos Estados Unidos, tudo leva a apostar que teremos uma abstenção inferior aos 36% do eleitorado.

E no Brasil, onde o voto é obrigatório e a multa por não votar pouco superior a uma tarifa de ônibus urbano, o eleitorado comparece mais? Em Pelotas, único colégio eleitoral gaúcho onde houve 2º turno, 18,14% dos cidadãos com direito a voto deixaram de ajudar o vitorioso Eduardo Leite, ou de melhorar a perfórmance de seu oponente derrotado, a velha raposa petista Eduardo Marroni. Estatística muito próxima do comparecimento às urnas no maior e mais importante colégio eleitoral do país, São Paulo, onde 19,99% dos eleitores deixaram de ajudar Fernando Hadad a aposentar José Serra da vida política nacional. Ou não, vai que esses quase 20% eram eleitores tucanos que decidiram entre si colocar as pantufas no velho vampiro da política paulista..?

Bem, se nos Estados Unidos a intenção de voto das minorias assustadas conduzem a uma participação cada vez maior através do voto, na Sicília vemos o indicativo de que o voto facultativo não empolga muito os eleitores a saírem de casa em nome de governos futuros. Já no Brasil, onde o voto ainda é como nos tempos dos currais eleitorais, obrigatório, vemos que 20% da população dá claros indícios de que nem obrigado quer votar. 


Mas e se não fôssemos uma democracia a cabresto, com a obrigação de votar em cada pleito? Será que aumentaria dramaticamente a abstenção? Minha opinião é de que isto não aconteceria, desde que os tribunais eleitorais tomassem uma única providência: possibilitar o voto pela internet. Afinal, se a declaração do imposto de renda já é feita desta forma e o voto é feito através de uma urna eletrônica, só não é feito online porque não há vontade política para tal. Se um dia isto mudar, é certo de que a abstenção no Brasil não vai aumentar significativamente. Tende até a diminuir.

terça-feira, 16 de outubro de 2012

Nova Economia na Casa Branca?

Aquilo que aconteceu no começo dos anos 50 pode estar acontecendo outra vez. Onde? Nos Estados Unidos. O quê? A nova indústria do entretenimento investindo para obter o poder outrora em mãos da indústria do cinema. Como? Investindo volumes substanciais em quem pode fazer a magia da transformação. Quem? Desta vez, não serão os canais de TV de Nova Iorque, os mesmos que conseguiram fundar redes "coast to coast" de entretenimento popular, com investimento em Walt Disney, por exemplo. Sim, foram eles que construíram a Disneylândia em solo californiano para criar uma diversão ao monopólio do cinema, do lado de Hollywwod. Por quê? O entretenimento de massa está cada vez mais afastado das salas de cinema e, especialmente, da TV no meio da sala. Sim, desculpe alertar, desta vez Hollywood está abraçada em seu antigo inimigo, a TV aberta. Todos contra o Silicon Valley e a nova indústria de T.I.

Desde o surgimento da TV por assinatura, que a indústria cinematográfica, as grandes gravadoras e a TV aberta formam um "mènage a trois" indecente para controlar a mídia popular. E conseguiram, em especial até o início deste milênio. Pena que a indústria da tecnologia da informação não respeitou este acordo sórdido e popularizou coisas como os gravadores de mídias digitais e a internet. Resultado? TV aberta virou entretenimento de quem perdeu a capacidade de se atualizar; TV por assinatura criou uma dependência parasitária de Hollywood; as gravadoras gastaram mundos de seus fundos comprando os estúdios californianos e criando canais fechados de televisão, produzindo um conteúdo que todos baixam mundialmente pela internet, com muito pouca gente disposta a pagar um centavo que seja por isto.

Antes que me confundam com algum profeta do caos tecnológico, melhor expor alguns dados: dos 690 Milhões de Dólares arrecadados pela campanha de Obama, U$ 27 Milhões já saíram dos bolsos de doadores da nova mídia. E pra quem precisa posicionar a compreensão, neste ranking, George Soros figura em 21º entre os doadores na Califórnia, estado mais rico dos EUA. Enquanto isso, a lista de pessoas jurídicas aponta que a Microsoft doava 544 Mil Dólares, ao mesmo tempo que Google tirava U$ 526 Mil do caixa em favor do atual presidente, contra 197 Mil da National Amusements Inc, dona de 1.500 salas de cinema, da Viacom, Paramount e CBS.

Não tire do horizonte uma estimativa de 6 Bilhões de Dólares, total de gastos estimado para o atual processo eleitoral na casa do Tio Sam. Empresas do novo mercado ainda não respondem pela fatia maior das contribuições, mas é forte o pendor destas por Obama. Basta olhar a tabela dos maiores contribuintes para a campanha do desafiante Mit Romney que se nota um nada tímido, mas solitário esforço da EMC em investir 257 Mil Dólares no candidato republicano. O forte da turma do "Tea Party" segue sendo o mercado financeiro. Afinal o grande atrativo oferecido pelo time de Romney aos empresários é a redução de impostos, através do encolhimento do Estado. Esqueceu de assinalar a Tecnologia da Informação como pauta de importância no caso de chegar à Casa Branca e perdeu esta fortuna em doações de campanha.

Enquanto o atual Presidente afirma estar comprometido em dobrar o financiamento para pesquisadores e empreendedores, o desafiante republicano recorre ao século passado pregando o ressurgimento de uma classe média forte, capaz de estimular uma América forte, independente e com empregos para todos. Quem não inova, não ganha apoio da nova e fica, cada vez mais dependente da velha economia. Talvez este pequeno detalhe seja o bastante para fazer a diferença em um pleito tão apertado, onde cada voto dos delegados que definem a eleição indireta à presidência dos EUA tendem a sair das mãos de quem vive a nuvem diariamente, em casa no trabalho e em todos os lugares, através  de seus smartphones.