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sexta-feira, 2 de janeiro de 2015

SURABAYA

E a luz resplandeceu nas trevas, 

e as trevas não a compreenderam

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Surabaia é o principal porto da Indonésia, origem provável do marinheiro fictício e mentiroso da canção de Kurt Weil e Bertold Brecht, escrita e publicada a partir do início da profícua parceria dos jovens artistas da Alemanha, em 1927. A dupla composta pelo compositor e pelo dramaturgo alemães ganhou fama internacional quando se mudaram para os Estados Unidos, fugindo da perseguição política que sofriam em sua terra natal. Desde então suas peças, óperas e canções passaram a serem apresentadas, interpretadas e gravadas pelo mundo afora. Das obras compostas pela dupla, a mais famosa é a Ópera dos 3 Vinténs, mas Lux in Tenebris fez imenso sucesso mundial, especialmente pelo trecho desta canção que conta a desventura amorosa de uma mulher iludida pela lábia do conquistador dos 7 mares. 

Surabaya voltou às manchetes nesta virada de ano, novamente por uma história carregada de dor e tristeza. Mesmo longe daqui, do outro lado do mundo, a maioria de nós se sensibiliza com a desventura dos 155 passageiros do vôo QZ 8501, assim como dos 7 tripulantes a bordo do Airbus que partiu daquela cidade da Indonésia, com destino a Cingapura, mas sucumbiu à uma tempestade no Mar de Java. 

Teria sido apenas mais um trágico acidente aéreo, não fosse o ainda presente mistério do avião que desapareceu naquela região do planeta Terra no ano passado e que, simplesmente, não deixou pistas. Enquanto não surgir algum sinal das 239 pessoas a bordo do vôo MH 370, da Malaysian Airlines, não conseguiremos esquecer deste episódio onde seres humanos tomam chá de sumiço, assim de repente, sem qualquer vestígio de seu paradeiro.

Tal e qual o marinheiro Surabaya Johnny, que manipulou o desejo de ser persuadida da vitimizada personagem da ópera Lux in Tenebris, se dizendo um operário da ferrovia, para depois partir sem deixar vestígios, restando à amada, literalmente, a opção de ficar a ver navios. Volta e meia, sem sinal ou aviso, um daqueles barcos pára no porto e, da embarcação desce o sedutor marinheiro, com a mesma cara deslavada. E, ela o recebe com beijos, carinho e muito amor, mesmo reclamando do ódio que sente por ele a ter enganado, mas tendo a certeza de que nada na vida lhe causa mais emoções.

Ela está em vantagem sobre os entes queridos daqueles que estavam no voo da Malaysia Airlines; infelizmente estes sumiram pra não mais voltar. O mesmo ocorre com os familiares dos que estavam no voo que partiu de Surabaya e jamais chegou a Cingapura. Ao menos estão recebendo de volta seus afetos. Da pior forma possível, mas lhes resta o conforto de saberem onde estão.