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segunda-feira, 27 de julho de 2015

Da Feira Direto Ao Coração

“Foco, foco, foco… vamos manter o foco”! Confesso que fiquei impressionado ao ouvir isso na feira. Não, eu não estava em algum evento empresarial ou de “coaching” em alguma federação patronal, mas em pleno canteiro central da av. Cascatinha, onde faço feira nos sábados.
Tem chovido muito, os vegetais estão feios e escassos com preços pela hora da morte -uns culpam São Pedro, outros o PT- e não foi diferente no começo do último fim de semana. Teve chuva pela manhã seguida de uma razoável estiada que me possibilitou até uma caminhada no parque depois das compras, além de abrir as janelas e arejar a casa, que já começava a apresentar sinais de bolor pelas paredes. 
Voltando ao foco -o meu no argumento do texto- havia bastante gente tentando gastar. Comi um pastel e bebi meu caldo-de-cana na feira ao fim da manhã, enquanto aguardava o Antonio Gornatti que foi até aquele lado da cidade para buscar agasalhos em donativo e distribuir aos desabrigados da enchente; um sujeito especial que gasta suas horas vagas auxiliando gente que muitas vezes nem vai conhecer. Em seguida me pus a passo entre as bancas e estava ruim de comprar alimentos frescos. Os tomates, desde que chegou este inverno ainda não me fizeram deixar de comprar os molhos e enlatados importados, que conseguem chegar aqui a preço mais convidativo que o produto trazido da horta. As bananas estão mais repulsivas que eu quando saio da cama pela manhã e a couve está chegando em folhas do tamanho de louro, enquanto que louro não há. Mesmo assim, lá estávamos, os consumidores, ávidos por fazermos compras, mas os vendedores, cansados por acordarem de madrugada, montarem suas barracas e passarem as 3 primeiras horas de seu trabalho embaixo de chuva e quase sem clientes, já haviam desligado os disjuntores. Sabe, perda total de saco e esperança? Pois é, já nem se davam conta de que centenas de clientes chegaram de repente, doidinhos pra gastarem o que tinha nas carteiras. 
Foi quando o “manager” de uma dessas barracas começou a gritar com os colegas: “foco, foco, vamos manter o foco…” Comecei a rir sozinho pensando na possibilidade de estarem vendendo foco na feira, posto que as óticas perderam a exclusividade no produto para os camelôs, mas percebi que era apenas um “coach feirante” tentando aproveitar a derradeira oportunidade de diminuir o prejuízo daquela manhã, quiçá da semana. Lembrei do que diz Dado Schneider em suas palestras de otimização profissional, parafraseando Delfim Netto: “pior que a realidade, só as perspectivas”.

Do fundo do coração vem o desejo de que, ao melhor estilo das empresas de ponta-de-lança do marketing e grandes negócios, o “coach manager” da tenda de horti-frutis tenha conseguido recuperar a estima e capacidade vendedora de seus colaboradores na feira, depois de duas semanas tentando vender produtos abaixo do padrão e acima do preço a escassos clientes. Ao mesmo tempo que o coração se enche de esperança ao lembrar que conheço gente capaz de abandonar sua zona de conforto pelo simples sentimento de cumprir um dever social com quem precisava mais naquele momento.

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