Pesquisar este blog

terça-feira, 29 de setembro de 2015

Stress? Que Trem é Esse Sô?

    Tem dias que a gente já começa estressado. Não é do meu feitio, procuro ser calmo e tal, mas marquei para bem cedo da manhã um procedimento pra lá de doloroso em uma clínica. Eram 9h e eu já queria matar alguém, mas que culpa têm os outros pelo meu sofrimento? Assim sendo fui comprar os medicamentos receitados na farmácia do Menino Deus que me atende com mais atenção em Porto Alegre e aproveitei para tomar um café no Empório Mineiro, do outro lado da Getúlio Vargas.

    O café passando no coador à minha frente, um dedo de prosa com o mineiro, aquele cheirinho de pão de queijo no ar. Esquece do stress rapidinho. Aliás, conversávamos exatamente sobre isso. Eu vinha no carro ouvindo uma matéria sobre essa doença social que está provocando um suicídio a cada 45 segundos no planeta e 25 por dia no Brasil. Ele sentenciou na hora: "as novas gerações crescem sem criar calos e não estão preparados para enfrentar a vida; é muito stress e não aguentam". Bingo!

    Por isso sugiro aos amigos, encontrarem um cantinho com ar de Minas, ou se puderem, peguem um avião e vão passar uns dias por lá. O povo mineiro e tão, mas tão menos estressado que o gaúcho, que em pouco tempo a gente fica calminho, calminho. Um café coado no pano, um dedo de prosa, a beleza e graça das mineiras, um pão de queijo, ou mesmo o próprio queijo, os doces, uma cachacinha especial e o tempo começa a passar em outra velocidade. Essa vida atribulada dos dias que correm, fica mais agradável quando se diminui a velocidade.

    Nem precisa abdicar de ser gaúcho pra fazer isso. Apenas abrir a possibilidade de aprender com os mineiros como tirar melhor proveito do tempo. Afinal ele vai passar inexoravelmente e não vai voltar. Portanto é melhor ter uma relação menos estressada com esse trem e com a vida, como faz esse desestressado povo de Minas. 

quinta-feira, 24 de setembro de 2015

Não Há Saída Fora da Democracia

    Sou da geração que passou o primeiro quarto de vida lutando pela democracia, pois os direitos políticos foram subtraídos por uma ditadura. Não tínhamos o direito de escolher nossos governantes, fosse o prefeito, o governador ou Presidente da República. Não existia liberdade de associação política e nos era dado apenas a alternativa de escolher entre ser a favor do governo, ou contra, pois até a denominação "partido" estava banida e o que nos era permitido chamava-se Arena, ou MDB. As lideranças foram banidas e estavam exiladas fora do país, o que favoreceu a formação de uma nova geração de agentes políticos, que estava fadada a ser manipulada pelas velhas raposas coniventes com o bi-partidarismo, onde quem saísse da linha era cassado. Estado de Direito era uma ficção. 

    Assim sendo passamos 25 anos lutando pela liberdades de escolher nossos governantes através do voto, de associação política em partidos autênticos, de repatriarmos nossos líderes para que, com eles, nossos novos agentes políticos construíssem uma ampla participação popular, restabelecendo a democracia e construindo um novo país, baseado num Estado de Direito. Deu ruim!

    A contaminação criada pelos 25 anos do bi-partidarismo gerou esse monstrengo que é nossa Constituição, 34 partidos diferentes que se digladiam pelas generosas fatias do bolo chamado Fundo Partidário e eleições "livres" contaminadas pelo fisiologismo dessa herança maldita da ditadura chamada "voto obrigatório" e que ainda por cima "evoluiu" para um sistema jaboticaba de voto eletrônico através de uma urna que não emite recibo, nem pode ser auditada. 

    Nossas casas legislativas, em especial o Congresso, se transformaram em palácios suntuosos, onde se encastelam políticos desinteressados em defender o eleitorado, mas que levam a vida a angariar fausto e luxo, mordomias e cortesias como se estivessem amealhando o butim de uma colônia recém descoberta. Foi pra isso que lutamos pela livre associação política?

    Nossos magistrados são presenteados com mais e melhores benesses a cada ano que passa, a ponto de transformarem o teto de vencimentos em piso salarial e agregarem auxílios paletó, educação, moradia, mordomias e condutas de semi-deuses. Foi pra isso que lutamos pelo estabelecimento de um Estado de Direito?

    O distanciamento dos agentes deste Brasil do 3º milênio faz com que não mereçam o crédito da população que os sustenta e que sofre em consequência de seus atos e hábitos. Tudo está perdido? Temos de chamar de volta os militares e lhes pedir desculpas por termos corrido com eles do comando da nação? E se encontrarmos quem faça uma análise pragmática do momento que o país vive, julgando as falhas sem ranço e com propostas de como alterar o rumo, retomando a sensatez e readquirindo o respeito perdido interna e externamente? 

    Talvez alguém que lembra ser a sociedade brasileira permissiva e que temos que mudar a política, mas temos que mudar, também, a sociedade, ao passo que deixa claro ser necessária uma reforma política verdadeira e que grande erro de Lula foi não ter feito esta reforma, quando ele tinha tudo para fazer e que Dilma não tomou decisões estruturantes, em seu primeiro governo, sem fazer uma única PPP, perdendo uma grande oportunidade de modernizar o Estado brasileiro. Afinal nosso país era a bola da vez, há 5 anos e se o governo tivesse pensado de forma estratégica, podíamos ter um novo país, uma realidade diferente. Se esta pessoa alertar que a crise é grave e que a presidenta e sua equipe pensam se tratar de uma crise meramente econômica, quando ela é uma crise institucional, política e ética, também e que, por isso mesmo defende a separação de Estado e governo, pois quando este governa para resolver tão somente os seus problemas, acaba contaminando o Estado. Se eu disser que isto foi dito por um político do PT, você acreditaria? 

    Pois é, foi assim que, durante duas horas o prefeito de Canoas, Jairo Jorge, garantiu textualmente que "ou o PT muda, ou acaba como utopia", aos jornalistas que compõe o Clube de Opinião de Porto Alegre, nesta quarta-feira, enquanto assinalava ao mesmo tempo que neste processo de aumento do ICMS proposto pelo governador Sartori, o PT deveria ser propositivo e não apenas ser contra por ser contra, agindo como como se fosse um genérico do PSOL. "Nós, que governamos o Estado por 8 anos, deveríamos ser propositivos, apresentar alternativas, e não, simplesmente, sermos contra o pacote". E retornando ao cenário nacional sugere que uma saída para a crise criada por Dilma seria "chamar as oposições e propor um governo de coalizão nacional, uma espécie de parlamentarismo de fato”.

    Hoje adentrado ao 3º quarto da vida, aprendi que existe gente séria e gente ruim em toda a parte. A quem diz que "político é tudo igual" eu lembro que nós, lá atrás, mandamos de volta pra caserna quem tinha banido os políticos das decisões na vida nacional e que, desde então estes assumiram sua função em nossa sociedade. Não há forma de alterar o quadro atual sem a participação da classe política. Ou aprendemos a depurar e oxigenar nossas casas legislativas, ou fica tudo como está, ou nos resta o retrocesso. Afirmo que pode existir gente séria até mesmo dentro da política e até mesmo no PT, bem como até na magistratura tem gente séria, vide Moro. Sigo discordando de todas as práticas implementadas em nosso país nos últimos 13 anos, que nos conduziram a essa caos, do qual não há solução mágica para sair. A solução para sair desse atoleiro é política e temos, portanto, que encontrar onde tem trigo, no meio de todo esse joio. 

    Temos novos partido saindo do forno por agora e ainda não sabemos se entram nessa festa só pelas fatias do bolo, ou se estão dispostos a fazer do trigo o pão. Só tenho certeza de uma coisa: não há saída fora da democracia e do Estado de Direito. Tratemos pois, de melhorar o que temos. Bola ao centro!

terça-feira, 22 de setembro de 2015

Vocação Para o Atraso

    Vivo num lugar que adora ditadores e ditaduras. Daqui saíram as tropas que tomaram o poder central do Brasil em 1930 e lá permaneceram no comando por 15 anos. Na mais recente ditadura que governou o país, 3 dos 5 generais que assumiram o comando desta república, eram formados no Colégio Militar de Porto Alegre. Faz pouco tempo, na Capital Gaúcha a população manteve por 16 anos na prefeitura uma Nomenklatura que ditou regras rígidas, fazendo escola para a prática do governar em proveito próprio hoje vigente em Brasilia. Pra citar apenas uma das barbaridades praticadas, desviaram o trânsito de um dos cruzamentos de maior movimento na cidade durante quase um ano, sob o argumento de que os motoristas porto-alegrenses deveriam se acostumar a uma obra que ali seria feita. Passou o tempo, veio uma eleição e o dinheiro da obra foi desviado para o candidato da quadrilha, passaram uma vassoura no chão e recolocaram o trânsito onde estava antes e nenhuma obra foi feita no local.

   Gaúchos são reacionários amantes do atraso. Pra quem é de fora e não sabe, as ruas de Porto Alegre são frequentadas por carroças puxadas por cavalos. Não é uma nem duas; são 6mil delas, com direito a licenciamento e placa. Quem mais gosta são os motoqueiros, pois o cavalo da carroça larga aquela torta de bosta no leito da avenida, em seguida passa um carro enquanto aquilo ainda está mole e lá vem a moto, cujo condutor desavisadamente toma um banho cheiroso com a chuva do que foi levantado pelo pneu do veículo da frente. Imaginou receber o motoboy, em sua casa trazendo a encomenda do jantar, pedido nesta situação? Aqui acontece o tempo todo e as pessoas acham normal.

    Este sul de mundo tem muita gente que gosta de se jactar com o bordão "RS Melhor em Tudo" e o hino do Rio Grande diz "sirvam nossas façanhas de modelo à TODA Terra". Como marketing até que funciona e tem gente pelo Brasil afora que acredita sermos diferentes e até melhores em alguma coisa. Desconhecem estes que o IDH municipal de educação da Capital Gaúcha ocupa apenas a 331ª posição entre as cidades brasileiras e no ranking de longevidade estamos atrás de outros 500 municípios brasileiros. Na média entre os fatores pesquisados, Porto Alegre ocupa uma nada destacada 28ª posição no ranking da qualidade de vida, entre os municípios brasileiros.

    Pois bem, nesta capital do atraso existe uma minoria barulhenta que sempre clama para que tudo fique como está, ou volte a ser como dantes. Estes conseguiram forçar um plebiscito num passado recente, convencendo a população que deviam votar contra a construção de residências e uma marina pública, num local abandonado junto ao Guaíba conhecido como Pontal do Estaleiro Só. Ora imaginem se houvesse moradores no local e gente usando a marina, como poderiam conviver ali os mendigos e craqueiros que hoje fazem daquela área seu habitat?

    Essa mesma minoria que ama e vive do atraso agora quer impedir que o projeto Cais Mauá, que vem sendo discutido há "apenas" 25 anos, possibilite a construção de bares, restaurantes, play grounds, lojas de comércio e milhares de vagas para estacionamento no Centro Histórico da cidade, um lugar fétido e pútrido de onde jovens e turistas fogem há gerações. Querem eles que aquele cais podre e ultrapassado, que já não serve para atracação e transbordo de mercadorias, fique como está: isolado por um muro, apartado da cidade e sem qualquer função. Imagina abrir ali uma atração turística capaz de criar 28mil novas oportunidades de emprego, milhares de vagas de estacionamento em uma região convulsionada onde uma vaga custa até R$30. Imagina um turista ou jovem casal querer sentar pra comer ou beber algo assistindo o decantado por-do-sol do Guaíba. Ora, que vão a Buenos Aires fazer isso no Puerto Madero, porque aqui seguirá sendo a terra da carroça, onde se entra numa confeitaria pra comer negrinho e se vai à padaria pedir um cacetinho.

quarta-feira, 16 de setembro de 2015

O Futuro Passou e Deixaram Ele Passar


    Trabalho com e na internet desde 1999. Tudo começou quando fui chamado para gerar o conteúdo jornalístico de um portal de negócios internacionais, a partir de minha cidade, Porto Alegre. Em pouco tempo entendi que o mar de informações e possibilidades gerados naquele novo universo, não se restringia a esse ou aquele interesse, mas a um mundo novo para o qual o mercado da comunicação não estava preparado. Em 2002 já editava e dirigia o primeiro portal jornalístico do sul do país e, naquele ano, prestei minha primeira consultoria em Redes Sociais. Compreendi desde logo que o compartilhamento das informações era a grande novidade desta nova mídia. Ao contrário do que se fazia até então, nos meios e agências de comunicação.

    Corri para tentar compartilhar este meu novo conhecimento, entre aqueles que faziam acontecer o processo de comunicação neste sul de mundo, mostrando que tudo o que sabíamos até o momento estava por ruir e de como precisávamos criar estruturas pra compreender e embarcar nessa nova nave, que iria deixar nossa velha arca num passado ancião. Sem tentar ser arauto do fim dos tempos, deixava claro que era se adaptar ou sucumbir. Quem não estivesse preparado para o que a internet podia trazer, seria afogado pela onda do tsunami.

    Ouvi de gargalhadas a insultos, especialmente nas agências de propaganda, cujos "gênios" pensavam que eu estava apenas tentando vender mídia barata, enquanto só interessava a eles eram os 30 segundos a preço de ouro nos programas mais populares da TV aberta. Tentei explicar que todas as mídias tradicionais perderiam a importância em função da internet e das Redes Sociais e que as formas antigas iriam virar reboque de sustentação em pouco tempo. Preguei no deserto..!

   
Nesta terça-feira, 15 de setembro, a história do "mass media" deu seu passo final nesta mudança, dentro do Brasil. Era madrugada adentro quando Ana Paula Padrão teclou, com exclusividade, o vencedor da edição 2015 do @MasterChefBR... no Twitter, para somente um minuto depois anunciar o nome de Izabel no microfone da TV. E estamos falando do programa de maior sucesso da rede Bandeirantes, que liderava o Ibope naquele momento. De quebra a Band arrecadou um caminhão de dinheiro de uma operadora de telefonia que bancou o "merchand" e conquistou 1,5Milhão de seguidores na "hashtag" oficial do programa através de uma ação onde alguns dos twiteiros com maior número de seguidores no país bombavam os acontecimentos do programa na Rede Social. #MasterChefBR virou o fenômeno de mídia mais importante em todo o planeta durante mais de uma hora, na madrugada que passou. 


    E no RS, os gênios da comunicação deixaram o futuro passar.

quinta-feira, 3 de setembro de 2015

Criatividade em Nome da Sobrevivência

    Passo esta semana na Agafarma da Getúlio Vargas e a sempre gentil responsável pela loja descobre que não tem as medicações que buscava. Ofereceu para me entregar em casa, assim que eles chegassem, pois havia estoque na distribuidora. Perguntei se teria custo essa entrega, ela foi taxativa: "produtos não encontrados em balcão entregamos sem taxa". Gostei, como não tinha urgência, aguardei e agora há pouco ela avisou que estava mandando meu pedido. Desço para buscar com o motoboy, que já não era tão boy, nem bobo e conversamos sobre a inflação, pois ele sugeriu parcelar em 3 vezes no cartão o valor da compra. Daí pra falar nos preços dos alimentos do dia-a-dia foi um pulo. Ele comentou que, em função da profissão, anda por boa parte da cidade e quando vê uma barbada, pára e faz a compra, mesmo que pra deixar em estoque.

   Gostei e aproveitei pra dar uma dica: "por quê não se junta com alguns amigos motoboys, montam um app para smartphone e criam um serviço por assinatura, onde os assinantes ficam sempre sabendo onde tem essas barbadas. Vocês estarão fazendo o bem e ganhando uns pilas extras, nesse momento tão difícil". O cara sorriu e disse "grande ideia, vou fazer".

   Nos próximos anos, em que a economia deste país vai levar pra retomar o prumo, pilhas de ideias pra empreender, fazendo o bem coletivo e que forem informais, vão proliferar por toda a parte. É como os brasileiros poderão se defender da onda gigante em que se transformou a marolinha daquele falastrão que liquidou com as esperanças, credibilidade e estabilidade de um país que recebeu ajustado.