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quinta-feira, 24 de setembro de 2015

Não Há Saída Fora da Democracia

    Sou da geração que passou o primeiro quarto de vida lutando pela democracia, pois os direitos políticos foram subtraídos por uma ditadura. Não tínhamos o direito de escolher nossos governantes, fosse o prefeito, o governador ou Presidente da República. Não existia liberdade de associação política e nos era dado apenas a alternativa de escolher entre ser a favor do governo, ou contra, pois até a denominação "partido" estava banida e o que nos era permitido chamava-se Arena, ou MDB. As lideranças foram banidas e estavam exiladas fora do país, o que favoreceu a formação de uma nova geração de agentes políticos, que estava fadada a ser manipulada pelas velhas raposas coniventes com o bi-partidarismo, onde quem saísse da linha era cassado. Estado de Direito era uma ficção. 

    Assim sendo passamos 25 anos lutando pela liberdades de escolher nossos governantes através do voto, de associação política em partidos autênticos, de repatriarmos nossos líderes para que, com eles, nossos novos agentes políticos construíssem uma ampla participação popular, restabelecendo a democracia e construindo um novo país, baseado num Estado de Direito. Deu ruim!

    A contaminação criada pelos 25 anos do bi-partidarismo gerou esse monstrengo que é nossa Constituição, 34 partidos diferentes que se digladiam pelas generosas fatias do bolo chamado Fundo Partidário e eleições "livres" contaminadas pelo fisiologismo dessa herança maldita da ditadura chamada "voto obrigatório" e que ainda por cima "evoluiu" para um sistema jaboticaba de voto eletrônico através de uma urna que não emite recibo, nem pode ser auditada. 

    Nossas casas legislativas, em especial o Congresso, se transformaram em palácios suntuosos, onde se encastelam políticos desinteressados em defender o eleitorado, mas que levam a vida a angariar fausto e luxo, mordomias e cortesias como se estivessem amealhando o butim de uma colônia recém descoberta. Foi pra isso que lutamos pela livre associação política?

    Nossos magistrados são presenteados com mais e melhores benesses a cada ano que passa, a ponto de transformarem o teto de vencimentos em piso salarial e agregarem auxílios paletó, educação, moradia, mordomias e condutas de semi-deuses. Foi pra isso que lutamos pelo estabelecimento de um Estado de Direito?

    O distanciamento dos agentes deste Brasil do 3º milênio faz com que não mereçam o crédito da população que os sustenta e que sofre em consequência de seus atos e hábitos. Tudo está perdido? Temos de chamar de volta os militares e lhes pedir desculpas por termos corrido com eles do comando da nação? E se encontrarmos quem faça uma análise pragmática do momento que o país vive, julgando as falhas sem ranço e com propostas de como alterar o rumo, retomando a sensatez e readquirindo o respeito perdido interna e externamente? 

    Talvez alguém que lembra ser a sociedade brasileira permissiva e que temos que mudar a política, mas temos que mudar, também, a sociedade, ao passo que deixa claro ser necessária uma reforma política verdadeira e que grande erro de Lula foi não ter feito esta reforma, quando ele tinha tudo para fazer e que Dilma não tomou decisões estruturantes, em seu primeiro governo, sem fazer uma única PPP, perdendo uma grande oportunidade de modernizar o Estado brasileiro. Afinal nosso país era a bola da vez, há 5 anos e se o governo tivesse pensado de forma estratégica, podíamos ter um novo país, uma realidade diferente. Se esta pessoa alertar que a crise é grave e que a presidenta e sua equipe pensam se tratar de uma crise meramente econômica, quando ela é uma crise institucional, política e ética, também e que, por isso mesmo defende a separação de Estado e governo, pois quando este governa para resolver tão somente os seus problemas, acaba contaminando o Estado. Se eu disser que isto foi dito por um político do PT, você acreditaria? 

    Pois é, foi assim que, durante duas horas o prefeito de Canoas, Jairo Jorge, garantiu textualmente que "ou o PT muda, ou acaba como utopia", aos jornalistas que compõe o Clube de Opinião de Porto Alegre, nesta quarta-feira, enquanto assinalava ao mesmo tempo que neste processo de aumento do ICMS proposto pelo governador Sartori, o PT deveria ser propositivo e não apenas ser contra por ser contra, agindo como como se fosse um genérico do PSOL. "Nós, que governamos o Estado por 8 anos, deveríamos ser propositivos, apresentar alternativas, e não, simplesmente, sermos contra o pacote". E retornando ao cenário nacional sugere que uma saída para a crise criada por Dilma seria "chamar as oposições e propor um governo de coalizão nacional, uma espécie de parlamentarismo de fato”.

    Hoje adentrado ao 3º quarto da vida, aprendi que existe gente séria e gente ruim em toda a parte. A quem diz que "político é tudo igual" eu lembro que nós, lá atrás, mandamos de volta pra caserna quem tinha banido os políticos das decisões na vida nacional e que, desde então estes assumiram sua função em nossa sociedade. Não há forma de alterar o quadro atual sem a participação da classe política. Ou aprendemos a depurar e oxigenar nossas casas legislativas, ou fica tudo como está, ou nos resta o retrocesso. Afirmo que pode existir gente séria até mesmo dentro da política e até mesmo no PT, bem como até na magistratura tem gente séria, vide Moro. Sigo discordando de todas as práticas implementadas em nosso país nos últimos 13 anos, que nos conduziram a essa caos, do qual não há solução mágica para sair. A solução para sair desse atoleiro é política e temos, portanto, que encontrar onde tem trigo, no meio de todo esse joio. 

    Temos novos partido saindo do forno por agora e ainda não sabemos se entram nessa festa só pelas fatias do bolo, ou se estão dispostos a fazer do trigo o pão. Só tenho certeza de uma coisa: não há saída fora da democracia e do Estado de Direito. Tratemos pois, de melhorar o que temos. Bola ao centro!

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