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quarta-feira, 26 de abril de 2017

Como Traumatizar Uma Criança

   Não lembro por que motivo, mas naquele ano as aulas entraram dezembro adentro. Em toda minha infância morei em casa e nessas casas sempre houve galinheiro. Além das galinhas e claro, do galo, lá por agosto/setembro comprávamos um peruzinho pra engordar até o Natal, quando este morria na véspera do nascimento de Jesus.
   Eu voltava do colégio no ônibus do seu Mário, do qual desembarquei e ao chegar em frente ao portão de casa, vejo sair lá de dentro um gringo muito esquisito que morava num cortiço do outro lado da rua. Sabe esses tipos que parecem ter saído de um filme de terror preto e branco, de pele alva como papel, repleto de sardas que lhe cobriam inclusive a calva; 2 tufos de cabelo vermelho sobre as orelhas, poucos dentes na boca… o quadro do horror. 

   Pois esta figura saía lá de casa com um facão ensanguentado e as mãos cobertas de sangue, um sorriso banguela e malévolo e comentando ao me ver chegar: “tá feito!”

   Até eu descobrir que ele tinha matado apenas o peru que comeríamos no dia seguinte, uma enciclopédia de possibilidades passou em meus pensamentos. Quando o pai faleceu, eu ainda estava no colégio, deixamos de criar galinhas e o peru de Natal passou a ser comprado das fábricas de papelão catarinenses, mas eu ainda não consegui esquecer daquela imagem.

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