Pesquisar este blog

quinta-feira, 13 de dezembro de 2018

Saudosismo É Bom

Para ouvir a versão em áudio, basta acessar por aqui

Saudosismo é bom, porque prova que a pessoa fez histórias, ou delas participou. Costumo dizer que viver é fazer histórias; ser feliz é saber contá-las…
Hoje eu acordei com saudades da lista telefônica. As novas gerações nem sabem do que se trata, mas lembrar da facilidade de precisar de um serviço e simplesmente consultar as páginas amarelas… quanta saudade disso.
Todas as cidades de médias pra grandes, tinham sua própria lista telefônica e, aqui no Brasil, cada cidade tinha somente uma companhia telefônica, que era Estatal. Ter um telefone em casa era sinônimo de posses. Meu pai declarava o dele ao imposto de renda. Sim, o telefone era um bem e cada lista abrangia especificamente a região daquela cidade, onde se editava uma nova versão a cada ano. Menos Rio de Janeiro, onde chegou a passar 7 anos sem atualização do catálogo, com nomes, ou endereços e seus respectivos números de contato. Até onde minha memória alcança, o número lá de casa tinha 5 dígitos, 21094. Depois, com o passar do tempo, recebeu mais um algarismo, subindo para 6 dígitos. Até que chegou o sétimo algarismo e, por fim o oitavo. Pouco depois deste já chegava o celular e os telefones fixos praticamente perderam a serventia, terminando com a utilidade da lista telefônica.
Claro que hoje temos os maravilhosos buscadores da internet, mas a lista telefônica trazia apenas os prestadores de serviço da minha região. Era bem mais rápido e eficaz que ficar depurando as centenas de sugestões que surgem nos portais de busca. Deu um certo saudosismo daquela simplicidade.
Lembro de um episódio ocorrido durante uma campanha para Prefeito de Porto Alegre, onde eu participava da equipe de marketing eleitoral. O “brilhante” marketeiro trazido de fora chegou com uma ideia mirabolante: “vamos criar um personagem igual à Velhinha de Taubaté…” Todos os locais se olharam incrédulos, mas ante a jactância efusiva do ser alienígena, que acreditava estar homenageando os nativos copiando uma criação de Luiz Fernando Veríssimo, capitulamos. Quando percebemos que era a sério, começamos a conjecturar quem podia interpretar a nossa versão da personagem. Eu rapidamente sugeri a pessoa que me veio à mente de estalo para fazer o papel; comediante que foi uma das maiores radio-atrizes do passado, mas que ainda atuava nos palcos da vida e gravava comerciais: Esther Castro. 
Todos os mais velhos, à mesa concordaram na hora; ela seria perfeita. O comandante executivo da operação imediatamente chamou a estagiária bonitinha, mas que nasceu desprovida de neurônios e solicitou que ela encontrasse e chamasse nossa atriz o quanto antes. Dois longos dias se passaram e houve cobranças na reunião de agenda matinal. Onde estava a atriz pra fazer a personagem "genial"???
Chamada a estagiária graciosa e questionam a ela qual a razão da demora da pessoa estar ali. Ela se descabelou tentando explicar que não a conseguia encontrar. Quando passou o chilique pedi gentilmente à ela que nos trouxesse uma lista telefônica. Ela saiu e retornou à sala de reuniões com o catálogo em mãos, o qual me entregou. Abri na letra C; Castro estava entre os primeiros. Corri o dedo sobre os nomes listados até encontrar Castro, Esther. “Liga pra essa pessoa aqui, meu anjo”..! Ela pôs a duas mãos na cintura, parecendo um açucareiro irritado e saltou com a pérola: “também, sabendo o nome, até eu né..?”
Saudades disso