Nós o chamávamos de Comandante Mário. Estudante de convênio internacional que veio da Venezuela para a Fabico, onde até as baratas eram de esquerda e ele mais do que todos. Era mais velho que a maioria dos jovens universitários, banguela e falava um portunhol bem estranho. Movido a maconha, não podia ficar sem “una pontiña”, se dizia ex-guerrilheiro pela causa do socialismo latino-americano.
Virava as noites de bar em bar pelo Bomfim, mas jamais deixou de abrir o Bar do Poli, na Fabico, às 7h da manhã. Vez em quando tirava umas palhas na dependência de empregada de um ap na Thomaz Flores, onde muitos ilustres fabicanos e amigos habitaram, como Iotti, Valério Azevedo, Beto Andrade, Jacaré e até o Wander Wildner, que aliás aprendeu a tocar guitarra ali. Rezava a lenda que a peça onde nosso Comandante eventualmente dormia, tinha vida própria, então ninguém entrava lá por medo de ser sugado para alguma outra dimensão de onde só o Mário sabia como regressar…
Pra quem não sabe, Fabico quer dizer Faculdade de Biblioteconomia e Comunicação. Sei que é difícil entender como as organizadas gurias da Biblio conviviam com os comunas do Jornalismo e os doidos da Publicidade e Propaganda, mas às 7h da manhã elas queriam um café novo, passado e bem quente. Eu deixava uma série de lanches prontos antes de fechar o bar, à noite, já que Mário ficava sozinho no atendimento, até que eu chegasse com as compras do dia para preparar o almoço. Quando eu chegava ele finalmente ia descansar um pouco, na maioria das vezes aproveitando o baixo movimento entre 10 e 11h, quando pegava o violão e ficava cantando boleros mexicanos e cubanos bem no cantinho. Era a deixa pra encher novamente o local, pois as gurias da biblio suspiravam pelo vozeirão do Comandante.
Quando me formei, na mesma turma do Gordo Miranda, Peninha Bueno e tantos outros ilustres, vendi o bar e fui gastar os Pilas nos EUA. Fui morar na California e, num belo dia toca o telefone lá de casa, eu atendo e pasmem… era o Mário. Chorando as mágoas pois a vida tornou-se entediante depois que retornou à Venezuela, seu torrão. Não revelou como conseguiu meu número americano, mas contou que pra não se deixar deprimir, havia explodido um posto de combustível naquela semana.
Claro que quando os socialistas bolivarianos conquistaram o governo na então rica Venezuela, ele galgou o poder e a última informação que soube dele é que se desentendeu com Hugo Chaves por $$$, tomou para si um Boeing da presidência da república, o qual teria vendido em um paraíso fiscal caribenho. Esteja onde estiver, deve seguir espalhando momentos divertidos “con tu querida presencia”, Comandante Mário
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