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sábado, 1 de junho de 2019

Fiz O Que Pude Com Muita Honra

Em 9 de fevereiro nasceu meu pai, Albino Ernesto Poli. Naquela colônia a léguas de qualquer civilização, 3º dos 9 filhos de Giovane e Angela, um lugar chamado Coronel Pillar, entre Garibaldi, Bento Gonçalves, próximo às nascentes do rio Taquari. Aliás, como bom gringo, o pai sempre falou com um sorrisão das pescarias no Taquari, o qual atravessava na mesma balsa que até hj está lá pros lado de Santa Teresa, pegado ao velho alambique cujo dono casou-se com uma prima dele.
Os filhos dos imigrantes italianos sabiam, desde o nascimento, que só teriam comida a custo de trabalho e, apesar disso, não deixavam de frequentar a escola primária ali existente. Só que, pra acordar antes do raiar do sol e sair no barro congelado pela geada da serra gaúcha no inverno, as crianças precisavam de sapatos, que na época custavam caro e eram feitos sob medida. Cansado de apertar os pés nos calçados surrados que herdava do irmão mais velho, o jovem Albino tanto fez que chegou a hora de conquistar o direito de mandar fazer um par sob medida para si próprio. Sabedor de que aquilo custaria um quinhão nada fácil de acumular por meu avô, criou coragem e perguntou ao patriarca o quanto significava para a família. "Custa tanto quanto um burro" explicou o nôno. "Pois eu prefiro o burro" optou meu pai, já que o sapato só serviria por pouco mais de uma ano, pois estava em fase de crescimento e no lombo do animal poderia ir pra escola sem queimar os pés no orvalho congelado. E ainda podia alugar o animal aos vizinhos para ararem suas roças, enquanto ficava dentro da sala de aula.
Assim o seu Poli juntou seu primeiro pé de meia, que o possibilitou a concluir o primário, fazer admissão e se bandear pra Garibaldi, onde foi o único filho a cursar o ginásio e partir pra uma vida diferente da sua origem. Um homem de poucas palavras, mas que devorava 3 jornais diários; que adorava geopolítica, não fumava nem bebia. Adorava o professor Keneth Cooper e caminhava uma hora por dia já no tempo da TV em preto e branco. 
Sempre deu o melhor aos filhos, sem nos mimar nem permitir extravagâncias. Suas únicas exigências: "estudem e não me decepcionem".
Espero não ter decepcionado, pai, pois o senhor segue sendo meu herói

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