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terça-feira, 26 de maio de 2020

Voz da Experiência; Voz de Sabedoria

No dia 17 de Março eu tinha agendado consulta médica, ali na volta da Santa Casa, bem no início da tarde. Logo em seguida saí, pois era só pra solicitar os exames de rotina e liguei para o filho Caçula, que mora pertinho dali. A faculdade dele já havia paralisado as aulas e perguntei se queria comer um cachorrinho na Princesa; ele disse que não sabia onde era isso, mas que pra cachorro quente eu podia contar com a parceria dele sempre. Em seguidinha ele apareceu, atravessamos a Praça Dom Feliciano e fomos até a rua da Praia, onde ele ficou conhecendo o melhor lanche no estilo “hot dog” de Porto Alegre. Tinha recebido meu iPhone novo e precisava comprar alguns acessórios, então pedi a ajuda dele: sabe como é, a gurizada sempre tem ideias mais descoladas para esse tipo de coisa.

Descemos a rua da Praia até que encontramos o que procurava e, como já estávamos no Centrão e, com sede, fomos até a rua da Ladeira beber um chope, pois ainda era verão no sul do mundo e, ao chegarmos ao Tuim, uma visão inédita e desoladora: só a Polaca estava lá -acho que ela mora lá. Éramos os únicos outros clientes. Ficamos de papo com o proprietário André e os garçons, pois ninguém tinha nada pra fazer mesmo. Comentei que acreditava no fechamento do comércio, por parte da Prefeitura. O André falou que, por ele, não fecharia: “trabalho desde os 15 anos, Poli, não sei fica parado”. Dito e feito; naquela noite Porto Alegre foi a “lockdown” por conta do Decreto 20.505. Era o começo desta tragédia que acabou com a alegria e tantos estabelecimentos comerciais e seus respectivos empregos na Capital Gaúcha.

No dia seguinte, ainda sem saber o que estaria aberto ou não, arrisquei ir até o supermercado do bairro, que estava aberto. Fiz minhas compras e reparei que além de mim, somente os funcionários e quase ninguém mais portávamos máscaras. Entre os consumidores, uma senhora com idade para ser minha mãe chegou atrás de mim da fila. Imediatamente ofereci a ela que passasse por mim, mas ela agradeceu, sentou-se no banco disponível no caixa preferencial e respondeu: “esta é a única distração que terei o dia todo; sou aposentada”. Notei o sotaque de alemoa da colônia e ela prosseguiu falando: “sou enfermeira e já passei por muitas epidemias e garanto que esta vai demorar a passar; ninguém sabe como lidar com ela”. Comentei que laboratórios do mundo todo buscavam uma vacina, ao que ela replicou ato contínuo: “a salvação está no plasma; é o plasma que vai salvar quem sobreviver”.

Fiquei com aquilo na cabeça, pois estava ali escutando a voz da experiência. Na primeira visita do filho que estuda Medicina, comentei o assunto com ele que confirmou a tese, mas alertou que não há capacidade de produção em larga escala. Pois agora, passados 2 meses, descubro que iniciativas por todo o planeta que estão tratando pacientes contaminados pelo Covid-19 com plasma contendo imunidade de quem já se curou e está livre dos efeitos da doença há mais de 1 mês. Descubro ainda que Caxias do Sul, na Serra Gaúcha, desde o fim da semana que passou está captando doações de sangue de infectados curados, para retirada do plasma com anticorpos e estes serem ministrados em doentes em tratamento. Cada doação salva 4 vidas e  pode ser refeita a cada duas semanas.

A voz da experiência falou mais alto uma vez mais. A alemoa tinha razão: o plasma pode ser a salvação

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