Era madrugada e eu voltava pra casa, da esbórnia. Costumeiramente passava no Zaffari da minha rua e trucidava um cachorro-quente -naquela época ainda não chamava "hot dog"- coberto com td, que aplacava boa parte da bebedeira. Saudades dos tempos em que supermercado virava a noite e com lancheria aberta.
Naquela meia quadra de caminhada que separava o supermercado da minha casa, com aquele silêncio da madrugada. Dava pra ouvir nitidamente o bater de meus passos na calçada. Sim, em minha adolescência calçava sapatos nas atividades sociais, tipo sair à noite... toc, toc, toc!
Quando estou chegando em casa ouço miados. Muitos miados. Finos, agudos e repetitivos. Olho para o outro lado da rua e vejo 2 filhotes felinos no meio da rua. Pensei imediatamente que eles corriam perigo, pois virariam pano de chão no exato momento em que um carro passasse pela rua. Lá foi o samaritano de plantão na madrugada resgatar os bichanos.
Eles correram ao me ver e se abrigaram no jardim da casa em frente, de onde vinham muitos outros miados. Entrei atrás deles. Naquela época as casas não eram gradeadas e os portões ficavam abertos. Abaixei e saí engatinhando pela floreira em busca dos filhotes.
No exato momento em que os encontro e pego, ouço o barulho na rua, de várias viaturas da Brigada chegando e parando no local. É o momento em que me ergo novamente e saio de uma casa que não é minha, no meio da madrugada, onde eu estava oculto atrás do pequeno muro, em meio aos arbustos. Com um gatinho em cada mão. Vai explicar...
Eram 3 camburões. À época, brigadianos usavam capacetes de aço e portavam cassetetes, além do trezoitão. Tive de encarar, não havia alternativa. Eu estava a menos de 10m da minha casa, do meu quarto, da minha cama -"so close, so far". Desde então, não mais me envolvo com felinos
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