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quinta-feira, 6 de janeiro de 2022

Dia de Reis

Tinha ficado solteiro, pela primeira vez, no auge dos meus 35 anos. Casei cedo, então enquanto quase todos os amigos se divertiam na galinhagem típica da juventude, eu formava família. Só que meu período enjaulado encerrou e ainda havia fervor juvenil de sobra pulsando em minhas veias. Parecia gordo em churrascaria rodízio: se empanturrando no buffet, comendo todas as delícias fritas que os garçons colocam à mesa, lambendo os beiços com frango, coraçãozinho, linguiças e, na hora em que chegam a picanha, as carnes nobres, já não sobra mais espaço pra aproveitar o melhor em oferta. 

Sim a falta de experiência fez com que eu me atrapalhasse na gandaia, nos primeiros meses, até que um amigo mais quilometrado na estrada da vida me aconselhou: “escolhe uma só e concentra a atenção nela; vai notar que as demais farão tudo pra chamar tua atenção”. Ouvi a voz da experiência e arrumei uma namorada. Naquele fim de semana a levei para Garibaldi. Ficamos no hotel Casacurta e, naquela noite descemos ao restaurante pra um jantar romântico.


O local é aconchegante, o cardápio estava impecável e o champanhe idem. Já que a cidade serrana gaúcha é a única fora da França onde existe licença para rotular espumante pela denominação de champanhe. Pra ser perfeito, faltava só aquela surpresa especial e… eis que ela surge na hora da sobremesa. Era um 6 de janeiro e adentrou o recinto um Terno de Reis. Dois violeiros e um acordeonista, como bem sugere a tradição italiana da terra de meu pai.


Pararam junto à mesa de entrada, tocaram uma canção dos “oriundi”, olharam para os comensais que aplaudiram, agradeceram e só. Ato contínuo abandonaram a mesa, seguindo em direção à minha. Chegaram tocando. A namorada apresentava o brilho perfeito nos olhos. Terminaram a primeira canção. Enquanto isso eu os observei. Eram uns tiozão, bem vestidos que, apesar de tocarem bem, não tinham jeito de músicos profissionais. Não pareceu que estivessem tocando por trocados. Então, enquanto a namorada extasiada beijava cada um deles, chamei o garçon e pedi mais um champanhe e 3 taças. O sorriso dos tios deixou claro que eu havia entendido bem a situação. Empinaram a primeira taça e fizemos um brinde ao Dia de Reis. 


Aliás, meu melhor Dia de Reis, na verdade minha melhor Noite de Reis, pois aqueles brindes se repetiram, mais garrafas foram abertas e quando os “cantante” se retiraram várias músicas depois, chegou a hora de voltar ao quarto do hotel. Aí, quem ganhou presente de Reis fui eu.

8 comentários:

  1. Sempre criativo e sutil, rsrsrs. O grande presente se estende até hoje, é tua lembrança em todos os Dias de Reis. Ótima história!!

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  2. Já dizia o síndico Tim Maia: anda meio esquecido mas é o dia da festa de Santos Reis!!

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    Respostas
    1. Td começou, exatamente, com a lembrança do homenageado pela canção do Síndico

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  3. Excelente história, com humor na medida pra um dia de reis hehe, nada como estas memórias de juventude pra nós deixar felizes com o hj. Parabéns, feliz dia e noite de Reis.

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  4. Marrrrcorelio, hixxxstória siniiisxxxtra...

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