A tempestade dessa terça-feira, 16/1/2024, deixou Porto Alegre fora do ar. Moro bem na divisa do Teresópolis com Nonoai, comecinho da Zona Sul da Capital Gaúcha. No tempo da antiga Companhia Estadual de Energia Elétrica, postes e cabos da minha rua foram substituídos e, desde então, nem nas intempéries mais inclementes fico muito tempo às escuras. Agora a coisa foi diferente.
Fui pra cama cedo, não sem antes me acautelar fechando todas as entradas de ar/água da cobertura. Quando o temporal me despertou, descobri que esquecera uma janela entreaberta na sala. Tarde demais: piso inundado. Peguei um pacote de velas e chapinhei pela sala até as acender e distribuir a luz candente, possibilitando alguma vista da minha tragédia particular. Abri uma cerveja e fui acompanhar pelas redes a extensão da tragédia coletiva. Quando acostumei a vista ao cenário, distribuí folhas de jornal pelas poças e fui apreciar a tempestade elétrica lá fora. Fiquei picando de janela em janela, atrás do melhor ângulo e foi assim que vi o Teresópolis apagar, o Alto Teresópolis virar breu, o Nonoai desaparecer e, por fim, o Alto Nonoai tornar-se solidário às trevas.
Meia-hora depois os “no break” das estações celulares das operadoras sucumbiram à ausência de energia e, depois de ficar sem luz, sem internet, perdia de vez a conexão com o planeta Terra. Bebi algo mais forte e voltei pro berço, de onde saí apenas com a luz do dia, para descobrir que ainda não tinha voltado a luz da CEEE. Bebi um café, limpei memórias de computador e telefone e fui caminhar pela vizinhança. O quadro da dor. Muita gente perdeu muita coisa e a quantidade de árvores derrubadas sobre carros, ruas e avenidas era de dar dó.
Lembrei que antes de ficar sem conexão, um amigo morador do Teresópolis informou que sua energia elétrica já estava restabelecida. Fui praquele lado na esperança de encontrar um “hot spot” que me colocasse novamente em contato com meu planeta, mas qual… com exceção de um dos mercados do bairro, que tem gerador, todo restante do comércio, incluindo postos de combustível e farmácias, fechados. Inclusive o Nacional, onde tem “wifi” e locais para sentar, mas cujas portas também estavam fechadas. Fui até o Bourbon.
Qual não foi minha surpresa ao chegar, quando me deparei com alguém da direção da empresa -é fácil notar a diferença entre eles e os gerentinhos- pela 1ª vez desde que abriram o shopping. Sua primeira medida foi mandar afastar o máximo possível os bancos das tomadas, impedindo que as pessoas dessem carga em seus aparelhos atualizarem informações ao mesmo tempo. Ato contínuo, determinou à segurança que não permitisse as pessoas sentarem no chão. TODAS as tomadas estavam tomadas pelos carregadores dessas pessoas. Um cidadão chegou e pediu licença a uma pessoa que ocupava uma das tomadas, a desplugou e plugou no lugar uma régua com 5 tomadas, recolocando o carregador retirado, colocando a sua pra carregar e oferecendo mais 3 a quem chegasse com a mesma necessidade. É empatia que chama?
Logo chega um querido amigo e vizinho do bairro comentando o infortúnio, ao que eu questiono o porque dessa falta de empatia da empresa com o público -que ainda não assimilou a marca- e ele comenta: “eles tinham que recolocar os bancos ao lado das tomadas e oferecerem água às pessoas, bem como abrirem 4, ou 5 réguas em venda nas prateleiras lá de dentro e distribuírem pelas tomadas”. Digo mais, eu bancaria um galão e água e um pacote de copos descartáveis para distribuir entre os presentes, bem como uma régua das prateleiras deles, a qual eu buscaria quando a situação regularizasse, pois sempre tem utilidade.
Que oportunidade de conquistar a comunidade da região a custo ínfimo perdida, seu Zaffari.
Em tempo: no meu 2º dia de entrar no Bourbon Teresópolis na abertura, para carregar e me conectar, descubro que o mesmo engravatado que dava ordens, mandou desligar o wifi. Próximo da tomada onde pluguei minha régua, possibilitando que outras 3 pessoas tivessem acesso à tomada tem um café “Doce Docê”, onde vi uma atendente atrás do balcão. Dirigi-me a ela e solicitei um café e a resposta foi: “só abrimos às 10h…” Comentei que isso não era problema, pois eu deixaria pago, em dinheiro já que as máquinas de cartão da loja não funcionavam e que ela poderia me alcançar o café às 10h. Enquanto isso eu pegaria uma das cadeiras da loja e levaria ali, a 3m distante e ao alcance de seu olhar. Claro que a resposta foi negativa para ambas demandas, enquanto mostrava que havia uma tomada compartilhável dentro da área da loja, mas argumentei que não iria importunar as 3 pessoas com mais idade que eu que ali estavam sentadas. Detalhe: no dia seguinte, meu 3º tendo que colocar carga em celular no shopping reparei que a insana havia retirado a mesa e cadeira sobre a única tomada elétrica compartilhável da loja. Fica o registro da empatia desses lojistas para com a comunidade que os sustenta
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