Em 1984 eu retornava de uma temporada nos EUA, mais precisamente na California governada por Ronald Reagan, onde pululavam embriões da esquerda se infiltrando no maior partido de oposição ao líder Republicano; os Democratas. Eu havia feito meu primeiro filho, mas trouxe a mãe dele para ter o bebê em Porto Alegre. Eu não queria um filho americano, mas sim brasileiro. Claro que podia ter deixado ele nascer em San Francisco e obter dupla cidadania no consulado local, mas eu optei por uma descendência brazuca puro sangue.
Ao pisar em solo gaúcho uma vez mais me enchi de brio e fui à luta. Comecei pelos quadrinhos, fazendo uma pilha de traduções de clássicos lançados pela L&PM, entre os quais Spirit e Freak Brothers, pra citar 2. Tive um grande parceiro de faculdade com quem compartilhava minhas HQs e ele e ele as suas comigo, o Gordo Miranda. Outro parceiro de faculdade me chamou para voltar ao Rádio, Beto Andrade, que me conduziu à Redação da Atlântida, emissora voltada ao público jovem do maior conglomerado de comunicação sul-brasileiro. Com o tempo, Beto foi abduzido pela TV do grupo e eu assumi as funções dele na rede Atlântida.
O Gordo deixou sua banda de rock pauleira, TaraNaTiriça, e montou um grupo bem diferente, ao estilo daqueles que eu vi surgirem na California naquela temporada, a Urubu Rei. Vários amigos daquela época montaram bandas do punk rock ao pop e estava criado o caldo de cultura. Aos poucos fui convencendo os programadores da Atlântida que a MPB já tinha dado o que podia e que o novo estava naquela tendência, pois eu já tinha visto isso acontecer nos EUA. Foi um ano e tanto aquele 1985, até que em seu fim conseguimos programar e executar, o longo de 4 sextas-feiras, no Gigantinho, com 12 bandas locais e mais quase todos os nomes de grandes roqueiros de fora do RS, muitos dos quais estavam surgindo na mesma onda, o Atlântida Rock Sul Concert, que levou mais de 60mil pessoas ao ginásio do Inter, em 4 noites separadas e nós do sul do mundo viramos referência e conseguimos levar ao estrelato nacional aqueles artistas. Porto Alegre entrou definitivamente no mapa nacional de eventos e entretenimento.
Agora, depois de tanta tragédia, nem mais aeroporto tem por aqui. Mesmo que artistas de fora do RS queiram vir se apresentar aqui, não têm como chegar. Voltamos a ficar longe demais das capitais. Quarenta anos de bom trabalho, empenho e bons resultados se foram por água abaixo
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