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terça-feira, 19 de outubro de 2021

A Lenda da Loira do Campari Duplo

Fui ao Tuim beber um chope com os amigos. Chovia e estavam todos na parte interna, entre tantas mesas cheias, como convém à uma sexta-feira. Eu estava um pouco estranho, pois acordei naquele dia surdo do ouvido esquerdo. Com certeza perderia metades das bbgs ditas pelos convivas, mas a outra metade que ouviria compensava minha participação.

Uma boa oportunidade de dar um abs no Delegado, pela passagem de seu aniversário e de desvirtualizar a relação já existente pelo universo virtual, com uma grande figura. Um chope e bolinhos de bacalhau, mas deu vontade de mudar e em seguida pedi uma Caipirinha. Com esta eu passei a entrar no ritmo, já que os amigos estavam ali calibrando a lenta há mais tempo. Mesmo assim, não deixei de reparar numa loira esbelta e longilínea sentada avulsa em mesa próxima.
Daqui a pouco, o aglutinador da mesa comentou que era o único bugre do pedaço e que todos os outros eram italianos, ao que o decano e novo amigo confirmou sua ascendência. Foi o que bastou para fisgar os ouvidos da loira. Ela virou o pescoço com a rapidez de uma jogadora de vôlei em final de campeonato e concentrou o foco em nossa mesa. Adorei o ocorrido e passei a fitá-la diretamente pra ver o que ocorria. Ela tomou um gole de sua bebida, levantou e veio direto, parou em frente ao decano e interrompeu: “desculpe, mas ouvi vocês falando que são italianos; sou advogada, moro na Calábria, terra de meu marido e acelero processos de naturalização para oriundi”.
Fiquei excitado na hora, que nem guri em roda de gude, mas ela nem me olhou. Todas suas atenções foram dirigidas ao decano. Toca meu cel, mostrando que recebi mensagem e, quando abro é o Garçon Gaiteiro do estabelecimento dizendo: “ela acabou com a reunião🙈: A Lenda da Loira do Campari Duplo; já é famosa a história no Tuim”. Passei a dar risadas em síncope e fui mostrando aos companheiros de mesa do que se tratava e todos gargalharam também. Ela deve ter se dado conta e retornou à sua mesa. É difícil de confiar em mulher, especialmente em uma situação como esta, mas confie sempre no seu garçon

sábado, 9 de outubro de 2021

Road Movie

Fomos passar uns dias numas estações de águas do noroeste da banda oriental(Uruguai). O único compromisso era entregar o piá às 5h da manhã da véspera de Carnaval pra mãe dele, em Porto Alegre, pois ela tinha comprado passagem para os dois sei lá pra onde e isso nem vem ao caso. O que importa é que eu e ele nos divertimos muito, comemos azados até estufar e frequentamos piscinas termais às noites e parques aquáticos durante os dias. Região de Salto. Recomendo.

No derradeiro hotel em que paramos, a contragosto fui obrigado a deixar a chave da possante com o manobrista, pois a garagem era tipo rotativa. Claro que ficamos até a manhã do último dia e, ao querer voltar ao Brasil, paguei a conta, peguei a chave do carro e… nada. Girei e nada aconteceu. Dormindo ou morto, mas nada aconteceu. E o problema não era bateria, pois som, luzes e outros acessórios funcionavam. Apenas o motor não respondia, nem acordava.


Conseguimos um reboque até Salto, onde havia uma “autorizada”(la garantia soy yo) BMW, em que 4h depois eu fui assuntar com o chefe dos mecânicos. Ele não tinha a menor ideia do que fazer. Liguei para o Luiz Fernando, em Porto Alegre, o veterinário da minha pet de rodas. Coloquei ambos em contato e, alguns minutos depois a possante deu sinal de vida. Fizeram algum tipo de gambiarra que funcionou, mas antes de tirar o veículo da garagem o chefe me alertou: “não deixe apagar o motor antes de chegar à oficina, pois não vai ligar outra vez…” Não é a frase perfeita para se ouvir antes de enfrentar 800km contra o tempo???


Era meio da tarde quando pegamos a estrada rumo à Capital Gaúcha e optamos por um caminho que parecia mais rápido. Na verdade enveredamos por uma rota em meio aos campos cisplatinos por donde nada havia. Só aquele pedaço de asfalto e plantações. Nem uma cidadezinha, vila ou… posto de combustível. Até que, lá pelas tantas, vi uma placa escrita à mão na beira da estrada dizendo: “nafta”(é como eles chamam gasolina por lá). Saí do asfalto, entrei na bocada por um caminho de terra e encontrei uma venda. Daquelas que tem ração animal a charque pendurado e perguntei: “tem nafta aqui?” Claro que a resposta foi: “si, pero…” era um alerta de que o preço não seria o mesmo dos postos de combustível. Não estava em condições de negociar e aceitei o valor cobrado, abasteci e nos tocamos. Ao chegar no próximo posto, daqueles gigantescos da Ancap, descobri que comprei gasolina muito antiga, pois o preço na bomba estava bem mais alto que o tio do armazém cobrou.


Consegui chegar a Porto Alegre meia hora antes do “dead line” pra entregar o piá e levei a possante pra dormir em frente da BM Power, onde o Luiz Fernando saberia ligar aquela joça outra vez.

quinta-feira, 7 de outubro de 2021

Rolam as Pedras

O amigo Miranda tinha se mudado pra São Paulo e, sempre que possível, a gente dava um jeito de se ver pra matar as saudades de rir até passar mal. Eu e o Gordo criamos uma expressão que simbolizava nossas vidas: “SÓ ALEGRIA!!!” Foi durante a final da Copa do Mundo de 1982, quando enchemos a caixa d’água e ficamos tocando percussão lá em casa, enquanto assistíamos Itália x Alemanha e, a cada pausa após um gol da insólita partida, parávamos de tocar e cantávamos: “é só alegria”. Foram 4 golos, fora os replays…

Ainda vivíamos os anos 80 e quem sobreviveu a isso sabe que não foi pouca coisa. Tanto eu quanto ele sempre fomos gourmands generosos(com nossos estômagos). Invariavelmente a noite encerrava com algum dos quitutes do Ponto Chic, mas antes disso o Gordo nos conduzia a pencas de locais onde degustávamos iguarias insuperáveis, um pouquinho aqui, um tantinho ali, outro tanto acolá. Sempre delícias maravilhosas. SP tem essa possibilidade pra oferecer.


Naquela época dos governos Sarney/Quércia, os pais de um outro amigo e colega de Fabico, Beto Andrade, haviam se mudado pra Sampa e nos garantiam toda a logística. Ainda bem que aproveitamos sua generosidade, pois na virada de 87 pra 88 eles estavam a bordo do Bateau Mouche para assistir a queima de fogos do reveillon em Copacabana e o resto da história, infelizmente, todos conhecemos. 


E numa dessas noitadas inesquecíveis na Capital Bandeirante, lá pelas tantas, fomos parar no Aerofanta; tá o nome era Aeroanta, mas como o público era eclético a gente chamava pelo nome alternativo. A noite já estava meio vencida e a casa noturna já não bombava, embora ainda tivesse mais um show programado e gente em vários locais. Entramos e alguém me alcançou mais alguma coisa pra beber, como se eu não estivesse com a caixa d’água cheia. A cabeça girava e circulávamos pra ver onde estacionar, quando surge uma figura conhecida: Kiko Zambianqui. Ele estava, como sempre, todo mauricinho, inclusive com mocassins de griffe. E minha cabeça girando. Nem deu tempo pra gente conversar muito, pois eu dei um porco no mocassim dele. Foi feio, eu sei, mas abriu espaço para mais bebida, que o Beto vinha trazendo.

segunda-feira, 4 de outubro de 2021

Meu Ídolo

Bela noite, na década passada, minha filha e meu genro tomaram todas e, além das bebidas, tomaram também uma decisão: a de voltarem pra casa com um filhote de 4 patas. No dia seguinte, em meio à ressaca, acordaram com 4 patinhas correndo pelo piso do apartamento e a carinha mais meiga que um Spitz Alemão tem pra oferecer e pedir comida. Surgia @Babaganush o cão celebridade.

Claro que todos o chamam por Babinha, mas eu o chamo de “meu ídolo”. Pelo simples fato de se tratar do mais inteligente cão que jamais conheci. Ele é calmo, é pacato, o que não significa que seja passivo. Ele detesta, por exemplo, ruídos de alta intensidade e frequência. Bata palmas no ambiente em que ele estiver e veja uma bola de pelos com menos de 2 kg se transformar num demônio que vai se botar no autor do ruído. Eu, por exemplo, gosto de brincar com cães fazendo “pernacchia”; eles detestam isso, mas Babinha surta quando ouve e parte pra cima. No resto, é um doguinho super de boas e que não enche o saco de ninguém.


Só que caninos têm o péssimo hábito de envelhecer após uma década. Em função disso, Babinha foi colocado em severa dieta, com ração especial e praticamente zero de gordura em sua alimentação. Vai daí que, ao visitar filha, genro e netos -o humano e o canino- sou recebido com aquele churrasco especial e meu ídolo se achega pedindo nacos de carne. Sim ele faz isso cutucando meu pé com sua pata e olhando daquele jeito irresistível. Eu já havia sido informado da situação e, com dor no coração, não acedi às súplicas do catiorríneo, que não parou de seguir pedindo um suculento naco de carne gorda. Até que, parou abaixo da churrasqueira, olhando pra mim e para seu dono com a cara mais triste que um cão pode oferecer, ao que meu genro teceu o seguinte comentário: “pô Babinha… agora só falta tu copiar o Chiquinho(neto humano) e se atirar no chão pra conseguir o que está sendo negado”. Ato contínuo e o cão se atirou no chão. 


Tem como resistir a um animal com esse nível de inteligência? Claro que ele ganhou um belo naco de churrasco, fatiadinho em pedaços do tamanho de sua pequena boca, os quais saboreou deglutiu, dormiu feliz e acordou devolvendo tudo, pois seu organismo ancião não mais digere gordura animal. Dane-se; ele conseguiu matar as saudades do sabor único de um suculento churrasco. Tem como não ser ídolo um animalzinho assim?