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sábado, 4 de fevereiro de 2023

Angu do Gomes e Saramandaia

"Eu sou o estopim da bomba 
É você quem me faz ser assim.
Se não quer ver o estouro da bomba. 
Não encoste esse fogo em mim"

Mamãe é Carioca e sua família enraizada na antiga capital do RJ, Niterói. Passei a infância e boa parte da adolescência trafegando pra lá e pra cá, pelas barcas que conduzem milhões de passageiros, todos os dias, através da baía de Guanabara. Pra quem não sabe, até a inauguração de Brasilia, o Distrito Federal era a Guanabara, sede do governo deste país até que Juscelino Kubistcheck criou aquela aberração no meio do Planalto Central. Favas contadas e águas passadas, que não movem moinhos. Em tempo: já viu um moinho d’água? No RS ainda existem vários. Pesquise e vá conhecer pra entender o porquê da expressão.

Assim sendo, como tinha o hábito de frequentar a Praça 15, do Rio, desde que era carregado pela mão materna, pra lá me dirigi com o intuito de atravessar a baía e visitar a família. Ao chegar ali, a tradicional muvuca carioca. A cada barca que chega, abre-se um portão por onde são despejadas 500, talvez 600 pessoas ou mais. Todos com pressa buscando seu caminho na Cidade Maravilhosa. Naquele dia eu estava com fome e passei no carrinho do Angu do Gomes e pedi uma refeição, que era servida em um prato de alumínio, o qual se comia em pé.



Por não saber comer rápido, até porque aquilo é servido bem quente, parei e prestei atenção em um tradicional trio nordestino -triângulo, zabumba e sanfona- nas proximidades. O triângulo era empunhado por uma belíssima morena de saia curta e pernas delineadas, com voz boa e potente. Fiquei olhando e ouvindo enquanto ela entoava: “eu sou o estopim da bomba, é você quem me faz ser assim…” Minha memória imediatamente me trouxe de volta a 1976, quando surgiu a novela Saramandaia, obra de Dias Gomes inspirada, segundo dizem, no livro “O Coronel e o Lobisomem”, pérola do realismo fantástico brasileiro, de José Cândido de Carvalho.


A canção interpretada pela bela morena, foi gravada no disco original da trilha da novela por ninguém menos que a intérprete da personagem Marina, da novela, a estupenda Sonia Braga no auge da sua morenice. A personagem precisava tomar banhos frios sucessivos, pois pegava fogo e incendiava tudo ao seu redor, especialmente quando Gibão -personagem interpretado por Juca de Oliveira, que tinha asas- estava por perto. 


Angu do Gomes era tido e vendido pelo próprio fundador do esquema de carrocinhas populares, como um afrodisíaco. Vendo aquela morena maravilhosa se insinuar pelos transeuntes a pedir $$, lembrei imediatamente da personagem e o efeito da gororoba foi imediato, ao jovem com menos de 18 anos e fiquei extasiado, ali parado, enchendo a pança e assistindo o espetáculo, lembrando de Saramandaia e da personagem de Sonia Braga, suas chamas intensas e seu sussurrar inebriante. 


Até que tocou a sirene da barca partindo pra Niterói

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