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sábado, 25 de dezembro de 2021

Aventura de Natal

Natal é feito de lembranças. Da infância e das alegrias em família, das mentiras dos mais velhos, das cores cheiros e sabores à mesa, do bebericar furtivamente do copo de algum adulto desavisado, da tonturinha. Todos temos boas histórias de Natal pra contar.

Eu, por exemplo estava nas minas, em meu período de garimpeiro. O casamento acabara naquele ano e, pelo primeira vez em muito tempo, não tinha família a minha volta. Fui pra dentro de um buraco pra esquecer de tudo, enquanto o tempo foi passando. Depois do almoço as pessoas já não retornavam à lida e, cada um com seu cada qual preparavam as festas em família.
Decidi que não ficaria sozinho, pois seria um tanto deprê. Voltei ao hotel, onde só restava a família proprietária, tomei um banhão, vesti roupa de domingo e botei o pé na estrada, rumo a Chapecó, onde pelo menos eu conseguiria ver gente. Menos de 30km depois reparo que o mostrador do termômetro do jipe acusa sobre-aquecimento.
Parei e esperei o carro esfriar e depois dirigi cautelosamente até Planalto, onde havia postos de serviços, para trocar os líquidos de arrefecimento. Feito isso me pus a passo e, na saída em direção a Nonoai, os índios colocaram crianças no meio da estrada, usando-as como barreira humana. Eu, já acostumado com os achaques daqueles caigangues paraguaios, sempre tinha moedas e balas de menta no painel e console pra ofertar. Não contava com o nervosismo do motorista do Corcel a minha frente, que em vez de parar, se atrapalhou e terminou por tocar o carro em cima dos indiozinhos, deixando o carro morrer, ato contínuo. Foi o que bastou para uma horda de caigangues embriagados surgirem de trás das macegas à beira da estrada brandindo bordunas e facões. O próximo veículo era o meu e eu sabia que tinha muito álcool naquelas cabeças silvícolas para eles discernirem o joio do trigo e me arranquei numa estratégica saída pela esquerda
Deixei a mente apertar o acelerador ao limite da tábua serra acima, sem dó nem atenção para o termômetro que insistia em tilintar seu alarme. O problema de aquecimento não eram os líquidos e voltara a se manifestar. Nem pestanejei: seria trucidado se ali ficasse e me fui o mais distante possível. Até que o motor fundiu, meia-dúzia de km depois. Fim de tarde, fim de linha para quem antes só queria ir até a cidade, ver gente e tomar um porre. Estava eu no meio de duas reservas indígenas, com meu jipe fundido sendo pedido pelos sinais de fumaça. Preciso dizer que estava em área fora de serviço de minha operadora de celular?

A noite caía e eu ali parado, às margens da RS 406, entre duas reservas de índios que pediam meu escalpo. Subitamente, do nada, um carro na estrada, em sentido contrário, encosta e o motorista pergunta: “precisa de ajuda?” A mão amiga na hora necessária fez-se presente uma vez mais em minha vida. “Sim, se o amigo tiver um celular que pegue aqui me ajuda muito”, respondi ao anjo da guarda. Ele fez o comunicado pra dentro do carro, onde se amontoavam 7 pessoas e respondeu que o filho tinha sinal. O guri, então desceu e me alcançou o telefone, com o qual imediatamente liguei para Chapecó solicitando socorro à cavalaria. Agradeci, desejei Feliz Natal e já estava voltando para o outro lado da estrada onde aguardaria o reboque, quando meu anjo da guarda determinou: “pega tua mochila e vem conosco”. Tentei retrucar, mas ele definiu: “vens conosco. Sou da região e sei que se os índios te pegam aqui, incendeiam teu jipe, contigo dentro”. Não sei se era a voz da razão, mas pareceu ser e me fui com eles, em meio a outras 7 pessoas num Monza.
Voltamos a Planalto e nos dirigimos à residência do contador local, que nos esperava com muita alegria, cortando cavacos para fazer fogo na churrasqueira. Fui me apresentar, ao que ele atalhou: “senta naquele banco, pega cerveja ali e relaxa. Em seguida vou ouvir tua história.” Ainda tentei me candidatar para cortar a madeira, mas ele encerrou de vez o assunto: “em minha casa visita não trabalha”. Pronto; sentei e bebi.
Cervejinha vai, cervejinha vem e eu, que já estava esquecendo meu infortúnio vi chegar uma linda morena, vinte e poucos anos e pernas kilométricamente delineadas pelos shorts que vestia. Foi quando meu anfitrião sentou-se a meu lado e comentou que era a sobrinha que chegava do Pará, onde fazia academia militar da Marinha; era Capitã de Mar e Guerra, mas naquele momento ele estava interessado na minha história, a qual lhe contei com todos os detalhes. Ouviu atentamente e comentou que deixar o carro e esperar pelo socorro em sua casa foi a decisão mais acertada possível e reiterou o desejo para que eu me sentisse em casa. O álcool já estava fazendo isso por mim e me aproximei da morena, que a essas alturas já parecia uma “Bond Girl”. Já cheguei dizendo o quanto eu estava maravilhado com sua beleza e que estava mesmo precisando encontrar porto seguro em minha vida, quando ela colocou seu copo em minha mão, abriu a bolsa que trazia sobre o braço e mostrou a 45: “muito obrigado pelos elogios, mas sou oficial da Marinha Brasileira, não tenho tempo para xavecos e esse assunto termina aqui”. Sorriu, fechou a bolsa, pegou o copo e deu meia-volta nos lindos calcanhares. O que eu trazia nas calças começou a vibrar; era meu celular chamando. O socorro havia chegado. O jipe e minha dignidade estavam salvos, bem a tempo. O celular do filho de meu anjo da guarda valeu como o próprio Rintintim.
Agradeci a todos me despedi, quando ganhei um vinho de produção própria de meu anfitrião e me fui tomar um porre em Chapecó, naquela noite em que eu bem merecia uma Missa do Galo.

domingo, 19 de dezembro de 2021

Faz o Que Quiseres, Só Não Enche Meu Saco

Há mto tempo não assistia àquela rede de TV. Nessa madrugada, zapeando vi um filme que deteve a minha atenção. Quando veio o intervalo comercial descobri que estava no tal canal, pq comecei a ver propagandas e chamadas com clichês que venho acompanhando em redes sociais sem entender. Ou seja: ainda tem gente absolutamente dominada pelo mecanismo. Deve ser essa gente que exige passaporte vacinal e não admite que pessoas possam ter a liberdade de não se vacinar, se assim o quiserem.

Sempre penso ser mais triste a vida dos pau-mandados, já que eles não têm iniciativa e determinação próprias e apenas respiram por aparelhos. Se o “main stream” oferece a “pílula azul”, que representa escolher a ignorância abençoada, tome-a e seja feliz, mas se alguma pessoa optar por tomar a “pílula vermelha”, que significa a escolha de abraçar a verdade às vezes dolorosa, porque vc não aceita que outro pense e haja de forma diferente à sua? Porque assim te mandaram. É um dos efeitos nefastos de quem entregou sua vida e destino ao “Grande Irmão”: ele manda, vc obedece e quem não concordar com isso vira inimigo?

Inimigo de quem, cara-pálida??? Não é vc, ser ridículo que está enchendo as burras com bilhões de doses de medicamentos experimentais vendidas através de governos que te obrigam a injetar essa porcaria. Quer tomar tome… é por sua própria conta e risco, mas daí a querer obrigar que TODOS tomem, é porque vc não acredita que essa droga tenha eficácia em imunizar quem quer que seja. Caso contrário, quem tomou já está imune. Por que ter medo de quem não tomou? Afinal 100% da imunidade é produzida dentro do corpo de cada um. Uma pessoa com imunidade alta, que teve contato com um vírus, vai destruí-lo dentro de seu corpo, pois suas células não vão permitir que o invasor as usem para se reproduzir e desta forma vai morrer. Só que, neste processo, as células do corpo invadido adquirem imunidade contra aquele tipo de invasor. Esta imunidade é real e eficaz e, até agora, não há provas de que essas medicações experimentais que estão sendo distribuídas em bilhões de doses mundo afora, tenham qualquer eficácia. 


Querer obrigar todos a tomarem essas drogas, em especial jovens e crianças, não passa de um exercício de controle social, pra ver se quem tomou a famigerada pílula azul é mesmo obediente. Se vc acredita no que determina o “main stream”, segue os ensinamentos do mecanismo como se fosse sua bíblia, o problema é seu e não de quem acredita na liberdade e optou por abraçar a liberdade que, por vezes sim, é dolorosa, mas é livre.


Se vc tem dificuldade de entender esse processo político, vou traduzir de maneira bem simples, no linguajar de um velho roqueiro: 

"Se um conversador é vegetariano, ele não come carne. Se um liberal é vegetariano, ele quer que todos os produtos de carne sejam banidos para todos.

Se um conservador está sem oportunidades na vida, ele pensa em como melhorar sua situação. Um liberal pensa em quem irá resolver isso por ele.

Se um conservador não gosta de um apresentador de televisão, ele troca de canal. Liberais ordenam que aqueles que não são de seu agrado sejam banidos. 

Se um conservador não acredita em Deus, não vai à Igreja. Um liberal quer que todas as menções a Deus e Jesus sejam silenciadas.

Se um conservador acha que precisa de plano de saúde, ele corre atrás de um, ou vai atrás de um emprego que ofereça um. Um liberal quer que todos nós sejamos responsáveis por pagar um pra ele.

Tom Araya, vocalista do Slayer.


Pegou o espírito da coisa, ou precisa desenhar???.

segunda-feira, 29 de novembro de 2021

Con Tu Querida Presencia

Nós o chamávamos de Comandante Mário. Estudante de convênio internacional que veio da Venezuela para a Fabico, onde até as baratas eram de esquerda e ele mais do que todos. Era mais velho que a maioria dos jovens universitários, banguela e falava um portunhol bem estranho. Movido a maconha, não podia ficar sem “una pontiña”, se dizia ex-guerrilheiro pela causa do socialismo latino-americano.
Virava as noites de bar em bar pelo Bomfim, mas jamais deixou de abrir o Bar do Poli, na Fabico, às 7h da manhã. Vez em quando tirava umas palhas na dependência de empregada de um ap na Thomaz Flores, onde muitos ilustres fabicanos e amigos habitaram, como Iotti, Valério Azevedo, Beto Andrade, Jacaré e até o Wander Wildner, que aliás aprendeu a tocar guitarra ali. Rezava a lenda que a peça onde nosso Comandante eventualmente dormia, tinha vida própria, então ninguém entrava lá por medo de ser sugado para alguma outra dimensão de onde só o Mário sabia como regressar…
Pra quem não sabe, Fabico quer dizer Faculdade de Biblioteconomia e Comunicação. Sei que é difícil entender como as organizadas gurias da Biblio conviviam com os comunas do Jornalismo e os doidos da Publicidade e Propaganda, mas às 7h da manhã elas queriam um café novo, passado e bem quente. Eu deixava uma série de lanches prontos antes de fechar o bar, à noite, já que Mário ficava sozinho no atendimento, até que eu chegasse com as compras do dia para preparar o almoço. Quando eu chegava ele finalmente ia descansar um pouco, na maioria das vezes aproveitando o baixo movimento entre 10 e 11h, quando pegava o violão e ficava cantando boleros mexicanos e cubanos bem no cantinho. Era a deixa pra encher novamente o local, pois as gurias da biblio suspiravam pelo vozeirão do Comandante.
Quando me formei, na mesma turma do Gordo Miranda, Peninha Bueno e tantos outros ilustres, vendi o bar e fui gastar os Pilas nos EUA. Fui morar na California e, num belo dia toca o telefone lá de casa, eu atendo e pasmem… era o Mário. Chorando as mágoas pois a vida tornou-se entediante depois que retornou à Venezuela, seu torrão. Não revelou como conseguiu meu número americano, mas contou que pra não se deixar deprimir, havia explodido um posto de combustível naquela semana.
Claro que quando os socialistas bolivarianos conquistaram o governo na então rica Venezuela, ele galgou o poder e a última informação que soube dele é que se desentendeu com Hugo Chaves por $$$, tomou para si um Boeing da presidência da república, o qual teria vendido em um paraíso fiscal caribenho. Esteja onde estiver, deve seguir espalhando momentos divertidos “con tu querida presencia”, Comandante Mário

terça-feira, 19 de outubro de 2021

A Lenda da Loira do Campari Duplo

Fui ao Tuim beber um chope com os amigos. Chovia e estavam todos na parte interna, entre tantas mesas cheias, como convém à uma sexta-feira. Eu estava um pouco estranho, pois acordei naquele dia surdo do ouvido esquerdo. Com certeza perderia metades das bbgs ditas pelos convivas, mas a outra metade que ouviria compensava minha participação.

Uma boa oportunidade de dar um abs no Delegado, pela passagem de seu aniversário e de desvirtualizar a relação já existente pelo universo virtual, com uma grande figura. Um chope e bolinhos de bacalhau, mas deu vontade de mudar e em seguida pedi uma Caipirinha. Com esta eu passei a entrar no ritmo, já que os amigos estavam ali calibrando a lenta há mais tempo. Mesmo assim, não deixei de reparar numa loira esbelta e longilínea sentada avulsa em mesa próxima.
Daqui a pouco, o aglutinador da mesa comentou que era o único bugre do pedaço e que todos os outros eram italianos, ao que o decano e novo amigo confirmou sua ascendência. Foi o que bastou para fisgar os ouvidos da loira. Ela virou o pescoço com a rapidez de uma jogadora de vôlei em final de campeonato e concentrou o foco em nossa mesa. Adorei o ocorrido e passei a fitá-la diretamente pra ver o que ocorria. Ela tomou um gole de sua bebida, levantou e veio direto, parou em frente ao decano e interrompeu: “desculpe, mas ouvi vocês falando que são italianos; sou advogada, moro na Calábria, terra de meu marido e acelero processos de naturalização para oriundi”.
Fiquei excitado na hora, que nem guri em roda de gude, mas ela nem me olhou. Todas suas atenções foram dirigidas ao decano. Toca meu cel, mostrando que recebi mensagem e, quando abro é o Garçon Gaiteiro do estabelecimento dizendo: “ela acabou com a reunião🙈: A Lenda da Loira do Campari Duplo; já é famosa a história no Tuim”. Passei a dar risadas em síncope e fui mostrando aos companheiros de mesa do que se tratava e todos gargalharam também. Ela deve ter se dado conta e retornou à sua mesa. É difícil de confiar em mulher, especialmente em uma situação como esta, mas confie sempre no seu garçon

sábado, 9 de outubro de 2021

Road Movie

Fomos passar uns dias numas estações de águas do noroeste da banda oriental(Uruguai). O único compromisso era entregar o piá às 5h da manhã da véspera de Carnaval pra mãe dele, em Porto Alegre, pois ela tinha comprado passagem para os dois sei lá pra onde e isso nem vem ao caso. O que importa é que eu e ele nos divertimos muito, comemos azados até estufar e frequentamos piscinas termais às noites e parques aquáticos durante os dias. Região de Salto. Recomendo.

No derradeiro hotel em que paramos, a contragosto fui obrigado a deixar a chave da possante com o manobrista, pois a garagem era tipo rotativa. Claro que ficamos até a manhã do último dia e, ao querer voltar ao Brasil, paguei a conta, peguei a chave do carro e… nada. Girei e nada aconteceu. Dormindo ou morto, mas nada aconteceu. E o problema não era bateria, pois som, luzes e outros acessórios funcionavam. Apenas o motor não respondia, nem acordava.


Conseguimos um reboque até Salto, onde havia uma “autorizada”(la garantia soy yo) BMW, em que 4h depois eu fui assuntar com o chefe dos mecânicos. Ele não tinha a menor ideia do que fazer. Liguei para o Luiz Fernando, em Porto Alegre, o veterinário da minha pet de rodas. Coloquei ambos em contato e, alguns minutos depois a possante deu sinal de vida. Fizeram algum tipo de gambiarra que funcionou, mas antes de tirar o veículo da garagem o chefe me alertou: “não deixe apagar o motor antes de chegar à oficina, pois não vai ligar outra vez…” Não é a frase perfeita para se ouvir antes de enfrentar 800km contra o tempo???


Era meio da tarde quando pegamos a estrada rumo à Capital Gaúcha e optamos por um caminho que parecia mais rápido. Na verdade enveredamos por uma rota em meio aos campos cisplatinos por donde nada havia. Só aquele pedaço de asfalto e plantações. Nem uma cidadezinha, vila ou… posto de combustível. Até que, lá pelas tantas, vi uma placa escrita à mão na beira da estrada dizendo: “nafta”(é como eles chamam gasolina por lá). Saí do asfalto, entrei na bocada por um caminho de terra e encontrei uma venda. Daquelas que tem ração animal a charque pendurado e perguntei: “tem nafta aqui?” Claro que a resposta foi: “si, pero…” era um alerta de que o preço não seria o mesmo dos postos de combustível. Não estava em condições de negociar e aceitei o valor cobrado, abasteci e nos tocamos. Ao chegar no próximo posto, daqueles gigantescos da Ancap, descobri que comprei gasolina muito antiga, pois o preço na bomba estava bem mais alto que o tio do armazém cobrou.


Consegui chegar a Porto Alegre meia hora antes do “dead line” pra entregar o piá e levei a possante pra dormir em frente da BM Power, onde o Luiz Fernando saberia ligar aquela joça outra vez.

quinta-feira, 7 de outubro de 2021

Rolam as Pedras

O amigo Miranda tinha se mudado pra São Paulo e, sempre que possível, a gente dava um jeito de se ver pra matar as saudades de rir até passar mal. Eu e o Gordo criamos uma expressão que simbolizava nossas vidas: “SÓ ALEGRIA!!!” Foi durante a final da Copa do Mundo de 1982, quando enchemos a caixa d’água e ficamos tocando percussão lá em casa, enquanto assistíamos Itália x Alemanha e, a cada pausa após um gol da insólita partida, parávamos de tocar e cantávamos: “é só alegria”. Foram 4 golos, fora os replays…

Ainda vivíamos os anos 80 e quem sobreviveu a isso sabe que não foi pouca coisa. Tanto eu quanto ele sempre fomos gourmands generosos(com nossos estômagos). Invariavelmente a noite encerrava com algum dos quitutes do Ponto Chic, mas antes disso o Gordo nos conduzia a pencas de locais onde degustávamos iguarias insuperáveis, um pouquinho aqui, um tantinho ali, outro tanto acolá. Sempre delícias maravilhosas. SP tem essa possibilidade pra oferecer.


Naquela época dos governos Sarney/Quércia, os pais de um outro amigo e colega de Fabico, Beto Andrade, haviam se mudado pra Sampa e nos garantiam toda a logística. Ainda bem que aproveitamos sua generosidade, pois na virada de 87 pra 88 eles estavam a bordo do Bateau Mouche para assistir a queima de fogos do reveillon em Copacabana e o resto da história, infelizmente, todos conhecemos. 


E numa dessas noitadas inesquecíveis na Capital Bandeirante, lá pelas tantas, fomos parar no Aerofanta; tá o nome era Aeroanta, mas como o público era eclético a gente chamava pelo nome alternativo. A noite já estava meio vencida e a casa noturna já não bombava, embora ainda tivesse mais um show programado e gente em vários locais. Entramos e alguém me alcançou mais alguma coisa pra beber, como se eu não estivesse com a caixa d’água cheia. A cabeça girava e circulávamos pra ver onde estacionar, quando surge uma figura conhecida: Kiko Zambianqui. Ele estava, como sempre, todo mauricinho, inclusive com mocassins de griffe. E minha cabeça girando. Nem deu tempo pra gente conversar muito, pois eu dei um porco no mocassim dele. Foi feio, eu sei, mas abriu espaço para mais bebida, que o Beto vinha trazendo.

segunda-feira, 4 de outubro de 2021

Meu Ídolo

Bela noite, na década passada, minha filha e meu genro tomaram todas e, além das bebidas, tomaram também uma decisão: a de voltarem pra casa com um filhote de 4 patas. No dia seguinte, em meio à ressaca, acordaram com 4 patinhas correndo pelo piso do apartamento e a carinha mais meiga que um Spitz Alemão tem pra oferecer e pedir comida. Surgia @Babaganush o cão celebridade.

Claro que todos o chamam por Babinha, mas eu o chamo de “meu ídolo”. Pelo simples fato de se tratar do mais inteligente cão que jamais conheci. Ele é calmo, é pacato, o que não significa que seja passivo. Ele detesta, por exemplo, ruídos de alta intensidade e frequência. Bata palmas no ambiente em que ele estiver e veja uma bola de pelos com menos de 2 kg se transformar num demônio que vai se botar no autor do ruído. Eu, por exemplo, gosto de brincar com cães fazendo “pernacchia”; eles detestam isso, mas Babinha surta quando ouve e parte pra cima. No resto, é um doguinho super de boas e que não enche o saco de ninguém.


Só que caninos têm o péssimo hábito de envelhecer após uma década. Em função disso, Babinha foi colocado em severa dieta, com ração especial e praticamente zero de gordura em sua alimentação. Vai daí que, ao visitar filha, genro e netos -o humano e o canino- sou recebido com aquele churrasco especial e meu ídolo se achega pedindo nacos de carne. Sim ele faz isso cutucando meu pé com sua pata e olhando daquele jeito irresistível. Eu já havia sido informado da situação e, com dor no coração, não acedi às súplicas do catiorríneo, que não parou de seguir pedindo um suculento naco de carne gorda. Até que, parou abaixo da churrasqueira, olhando pra mim e para seu dono com a cara mais triste que um cão pode oferecer, ao que meu genro teceu o seguinte comentário: “pô Babinha… agora só falta tu copiar o Chiquinho(neto humano) e se atirar no chão pra conseguir o que está sendo negado”. Ato contínuo e o cão se atirou no chão. 


Tem como resistir a um animal com esse nível de inteligência? Claro que ele ganhou um belo naco de churrasco, fatiadinho em pedaços do tamanho de sua pequena boca, os quais saboreou deglutiu, dormiu feliz e acordou devolvendo tudo, pois seu organismo ancião não mais digere gordura animal. Dane-se; ele conseguiu matar as saudades do sabor único de um suculento churrasco. Tem como não ser ídolo um animalzinho assim?

quinta-feira, 8 de julho de 2021

Taxi Também É Cultura

 Originalmente publicado em 8/7/2019

Na caminhada matinal deste Domingo cruzou por mim um dos motoristas de taxi que viraram marca na cidade onde nasci e me criei. Um personagem folclórico, que dirige e conduz passageiros há décadas vestido de gaudério, sempre com trilha sonora regional, hj já com frondosa barba branca sobre o lenço Colorado. Uma figura. Sempre que tem algum evento internacional em Porto Alegre, algum canal de TV faz matéria com ele.
Lembrei imediatamente de outro taxista que sempre vira matéria, ou no Dia Internacional do Rock, ou quando Paul MccArtney vem se apresentar na Capital Gaúcha. É o motorista beatlemaníaco, o John Lennon do taxi. Seu carro é todo embandeirado de imagens dos Beatles, usa cabelos compridos como na década de 60 e seu playlist é exclusivo do “fab 4”. Outra referência importante e quem já fez uma corrida com um, ou com o outro, sabe que a longevidade de ambos no transporte de passageiros concedido em Porto Alegre, vai mto além do folclore, pois prestam serviço de qualidade, com bom humor, contando boas histórias, carros limpos e com manutenção em dia.
Quem é mais antigo, talvez lembre um um motorista de taxi ainda mais folclórico, de tempos idos. Menos temático, mas com uma trilha sonora absurda, que deixaria os “Millenials” de orelhas em pé. O rádio do seu carro era de Ondas Curtas e ele passava dia e noite ouvindo emissoras de outros países. Lembro de uma viagem com ele onde começou com uma rádio da Inglaterra. Eu dividia a corrida com outros 2 colegas e o motora perguntou se eu sabia de onde era a transmissão que ouvíamos. Acertei na mosca, ao que o condutor trocou de estação e ao encontrar no dial a próxima, repetiu a pergunta. Era fácil: Rádio Mitre, Argentina. Ele não se deu por vencido e trocou de novo, dessa vez com grau “hard” de reconhecimento. Fui obrigado a arregar e comentar: “bah, parece alemão, mas não tô conseguindo entender quase nada…” Ele finalmente deu um sorriso de satisfação e comentou: “tá vendo guris, vocês não estudam e querem cantar de galos. Essa é a Rádio Nederland, que transmite em holandês”. Não deixei barato e respondi: “tem razão, afinal tenho 14 anos e até hj só tive tempo de estudar e tentar aprender inglês, espanhol, alemão e francês… nem cogitava em aprender holandês”. Os amigos recuperaram um pouco do orgulho ferido e o motora parou de trocar de estação.
Taxistas diferenciados fazem um ponto cultural diferenciado no dia-a-dia da cidade

terça-feira, 6 de julho de 2021

Oswaldo Eustáquio Conta Pela 1ª Vez O Que Sofreu Na Prisão

Entrevistei ontem, 5/7/2021, o Jornalista Oswaldo Eustáquio. Minha primeira pergunta foi: “você estudou Comunicação e se formou em Jornalismo?” A resposta foi “sim, cursei faculdade por 4 anos e me formei Jornalista em 2008. A segunda pergunta foi: “você registrou o diploma no Ministério do Trabalho e FENAJ - Federação Nacional dos Jornalistas, órgãos que conferem a certificação da profissão?” A resposta também foi positiva, confirmando que não só é Jornalista profissional há 13 anos, como é Pós Graduado e premiado, inclusive pelo Sindicato dos Jornalistas do Paraná, seu estado natal. Então por que raios a extrema imprensa insiste em o (des)qualificar como  “blogueiro”?

Quando tocamos no assunto, a meu lado na entrevista estava o Jornalista Júlio Ribeiro, da Press Advertising e Rádio Guaíba, o comentário de Eustáquio foi: “a esses veículos da extrema imprensa que tentam me qualificar como blogueiro, quero dizer que não tenho nada contra a ocupação. Eles podiam me dar um blog pra eu escrever que eu me tornaria blogueiro com prazer”.


O Jornalista paranaense, residente em Brasilia, informa que sempre circulou facilmente por todos os meios, até 2014, quando passou a defender sua posição contra a esquerda e o governo do PT. A partir dali deixou de ser aceito e passou a ser alvejado em todas as mídias. Este processo de assassinato de reputação culminou em Junho de 2020, quando Alexandre de Moraes determinou sua prisão por supostos “atos contra o STF”. Eustáquio passou 1 ano e 5 dias preso por conta do inquérito dos “Atos Anti-Democráticos”, algo que surgiu por conta de uma “fake news” criada por um deputado federal que já admitiu ter inventado tudo. 


Hoje usuário de uma cadeira de rodas, contou durante a entrevista, pela primeira vez, como tornou-se paraplégico na prisão. “Quando eu chego no presídio, eles me levam para a cela 13, coincidência ou não, das 14 daquela ala, contendo algo como 35 detentos cada, embora sejam feitas para 8. Um agente penal disse: ‘você é  um animal’ e não aceitei e disse ‘você que é…’ foi quando levei a primeira porrada e aí me colocaram num corredor polonês com mais de uma dúzia deles. Fui vítima de uma prática chamada de ‘extração’, um te pega um braço e torce, outro pega no outro braço e torce, um te pega o pescoço e sufoca… Na Papuda eles dizem que o sujeito que aguentar isso por 45s é ‘homem’. Machucado, ensanguentado fui jogado na solitária. Naquele momento faltou água na Papuda e só voltou 2 dias depois. Quando eu fui tentar tomar um banho, estoura o chuveiro. Fui tentar arrumar e estoura o cano do chuveiro e começa a inundar a solitária. Eu subo no vaso pra tentar arrumar, caio e perco os sentidos e sou retirado de lá inconsciente. A partir desse acidente eu não senti mais as pernas. Fui levado para o Hospital de Base, de Brasilia e aí começou meu périplo. Atualmente estou fazendo 4 horas de fisioterapia por dia, já consigo mexer um pouco os pés e pernas, mas ainda não consigo me sustentar de pé, mas se precisar, eu vou pra cima deles de cadeira de rodas mesmo.”

domingo, 25 de abril de 2021

Homessa

 Homessa - expressa admiração, surpresa, irritação; equivale a ora essa! ou a e essa agora!: "Que diabo tem você com as cabeçadas de seu mano José?... Homessa!" (Aluísio Azevedo, O mulato)

Durmo pouco. Faz anos. É muito comum perder o sono no meio da madrugada. Nesse caso ligo a TV e fico deitado assistindo Sessão Retrô e Vigilante Rodoviário no Canal Brasil. Entre tantos filmes antigos, quase todos em preto e branco, Mazaropi e Arrelia, ambos gênios vindos do circo. Gente que não se cria mais nestes tempos do politicamente correto. Artistas que sabiam fazer rir falando sério e que debochavam de tudo e de todos sem MI MI MI.

Este último ficou conhecido em São Paulo através dos programas de TV que levou ao ar pela Record, durante mais de uma década, interpretando o Palhaço Arrelia: “olá, como vai, como vai… eu vou bem, muito bem, bem, bem” era seu bordão de apresentação, que virou até marchinha. Grande e desengonçado, porque queria, já que era trapezista, função onde todos os movimentos precisam ser friamente calculados. No cinema, onde nem sempre interpretou o palhaço, ele se expressava de uma maneira peculiar, pontuando suas frases com a expressão “homessa”. Quase com a mesma insistência que costumo usar meus pontos reticentes e de exclamação.
Daí me veio a preocupação: por que jamais usei homessa em algum texto meu? Por que não sei usar a expressão em meu vocabulário corriqueiro? Eu que vivo debatendo nas tribunas do rádio, jamais falei sequer uma vez homessa. Pelo simples fato de não saber encaixar a expressão.
Homessa!!! Eu que escrevo há mais de 4 décadas, não sei como usar homessa. Ou será que aprendi?

sexta-feira, 9 de abril de 2021

Benefício do Mal

Aparentemente, há nada mais contristador que uma dessas terríveis pestes que devastam um ponto do globo? E, todavia, esse suposto mal é um benefício, não só porque elimina os organismos fracos, incapazes de resistência, como porque dá logar à observação, à descoberta da droga curativa. A higiene é filha de podridões seculares; devemo-la a milhões de corrompidos e infectos. Nada se perde, tudo é ganho

Sou um otimista incorrigível. Mesmo lesado por esta infindável pandemia, sigo olhando para a metade do copo cheia. Uma vizinha pediu para eu alugar minha garagem, já que não tenho mais carro e usava o espaço como depósito. Aproveitei o Carnaval para fazer uma limpa no local e dentro das caixas e mais caixas ali depositadas haviam livros… muitos livros. Separei aqueles que não me interessavam e doei à SPAAN, os demais subi para meu apartamento.

Ao tentar organizá-los nas estantes espalhadas pelo ambiente, reparei vários títulos com autoria de Machado de Assis -sempre que vejo algo dele em sebos adquiro na hora- e tornei a ler nosso escritor maior. Em Memórias Póstumas de Brás Cubas o personagem Quincas Borba é apresentado e lembrei que entre os achados havia uma edição crítica do livro contando a história deste. Quincas é um doidivanas genial, que criou uma religião chamada Humanitismo e quando está a passar ensinamentos desta filosofia a seu fiel auxiliar Rubião ele cria a figura com que abri este texto para exemplificar a “desimportância” da vida humana, segundo o Humanitismo, onde estar vivo ou morto são apenas 2 lados da mesma existência.


Ou seja: se até para Machado de Assis, através do personagem Quincas Borba, uma epidemia tem seu lado positivo, quem sou eu para choramingar e reclamar que é só tristeza? Afinal, esse tempo trancafiado em casa trouxe a possibilidade de colocar a literatura em dia e como dizia Einstein, “uma mente que se abre a uma nova ideia jamais voltará ao seu tamanho original”. Se ao longo dos 13 meses que já dura esse isolamento social não houve aumento do saldo bancário nem da musculatura, ao menos a mente teve ganhos e aprendizados.


Não há mal que não venha pra bem, nem mal que sempre dure..!


Constritador - aquilo que causa tristeza

quinta-feira, 1 de abril de 2021

O Tempo Passou


Dois anos atrás, quando a vida era normal, fui convidado para um evento insano, mas que celebrava a alegria e aonde houver alegria, podem me chamar que é lá onde eu quero estar. O Wedges, onde se faz um dos mais saborosos Hambúrguer da Capital Gaúcha solicitou minha participação no seu concurso anual de comer seu inigualável sanduíche de carne tostada na brasa, tipicamente norte-americano. Eu, como morador do Texas, na adolescência, trago desde então o hábito de assar na brasa esses bolos de carne moída, que ficam crocantes por fora e macios por dentro. No Texas, o hábito das pessoas se reunirem em volta de uma churrasqueira nos fins de semana, se iguala ao hábito gaúcho do churrasco. A diferença é que a carne vem moída e fica disponível para cada comensal pegar e preparar o seu. Aí que está a diferença: não tem um assador e cada um que prepare o seu, da maneira que achar melhor. Assim meus filhos cresceram, preparando cada um o seu hambúrguer desde sempre. Tanto que o primogênito, hj com 36 anos, preparava isso para os colegas no tempo de Colégio Bom Conselho e estes aprenderam e passaram o hábito adiante e se criou aqui, em Porto Alegre, mais esse hábito saboroso e saudável de congraçamento gastronômico. E acabou se espalhando para td o Brasil e hj se encontra hambúrguer artesanal por todos os cantos do nosso país. Claro que nem todos tão saborosos quanto os do Wedges.

Voltando ao evento, tratava-se de um concurso pra ver quem come mais hambúrguer. O recorde da edição anterior do ágape era de 8 sanduíches devorados em 8 minutos. O autor da proeza, evidentemente tb estaria presente. Um animal com metade da minha idade e maior que eu, só que não gordo, mas uma porta de forte. Fomos sentados a uma mesa comprida, ele numa ponta e eu na outra, com outros ogros no meio, todos dispostos a acabar com o estoque da hamburgueria, td isso regado à boa cerveja artesanal. E assim foi dada a largada.
Os primeiros 2 sanduíches descem facinho, mas a partir do terceiro, aquele mundarel de pão começa a engasgar, mas pra isso toma-se um bom gole de cerveja e segue a competição. Empurra o quarto e o quinto, já não com a mesma disposição inicial, mas ainda com vigor. Mais uns goles de cerveja e manda o sexto boca adentro, mas este já requer 4 mordidas, contra duas ou três do início da competição. Isso significa perda de tempo. Foco e concentração que faltam só 2 sanduíches e ainda restam 2 minutos. Um generoso gole de cerveja e bora engolir mais um. Foi, mas a sensação é de que o próximo não tinha espaço, mas eu tinha torcida e não os podia decepcionar. Mais cerveja, uma olhadinha no cronômetro e quem compete sabe que não pode desistir antes de tentar até o fim. Dois competidores já haviam desistido, mas sei que o recordista não se entregaria tampouco podia eu sucumbir e assim prossegui. Confesso que aquele oitavo hambúrguer não desceu fácil, nem com satisfação, mas o engoli antes do cronômetro bater os 8 minutos.
Feito isso, bebi mais um tanto de cerveja para lavar os beiços engraxados e olhei para o lado pra conferir se o recordista havia repetido seu feito. O animal trazia um sorriso de escárnio no canto da boca, pois tinha acabado de trucidar 10 daqueles sanduíches no mesmo tempo em que eu só comi 8, a pau e corda. Naquele átimo temporal senti que eu não era mais o mesmo, que o tempo passou, a idade chegou e eu não podia mais me comportar como um Peter Pan que não envelhece. Minha velhice anunciou desta forma a sua chegada e naquele exato momento eu chorei. Todos viram. Se sentiram pena de mim, não precisava. Até pq a alternativa à velhice não me atrai nem um pouco. Então só posso agradecer por conseguir comer 8 maravilhosos, suculentos e mto bem assados hambúrgueres, engolir a vergonha, afogar aquela mágoa em mais uma cerveja e bola ao centro, pois segue o jogo. Só que, a partir daquele momento, em outro ritmo.